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    'Todo escritor é um mentiroso', diz Ariano Suassuna em bienal de Brasília

    LÚCIO FLÁVIO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BRASÍLIA

    16/04/2014 00h16

    Definitivamente as massas gostam é dos velhinhos. Depois do escritor uruguaio Eduardo Galeano, 73, causar furor em sua passagem pela 2ª Bienal Brasil do Livro e da Literatura como um dos homenageados, foi a vez do grande mestre Ariano Suassuna, 86, atrair uma fila que dava volta no quarteirão no Museu da República Honestino Guimarães, em Brasília, nesta terça (15).

    "Agradeço muito por vocês estarem aqui, senão eu não viria de jeito nenhum", disse o autor de textos clássicos como "O Auto da Compadecida" e "A Pedra do Reino" e idealizador do movimento Armorial. "Quero pedir desculpas a vocês por causa da minha voz que é feia, baixa, fraca e rouca mesmo", emendou, arrancando aplausos da plateia.

    Leo Caldas/Folhapress
    O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna em sua casa, no Recife
    O escritor e dramaturgo Ariano Suassuna em sua casa, no Recife

    Todo vestido de branco, bem à vontade e cheio de energia, o escritor, que está prestes a lançar seu mais recente livro, "O Jumento Sedutor", lembrou histórias e causos. Citou Lima Barreto, o grego Aristóteles e os filósofos franceses Henri Bresson (1908-2004) e Albert Camus (1913-1960) para falar das duas categorias das belezas: aquela que causa desarmonia e a que causa dor.

    "A cultura brasileira e, particularmente a nordestina, de um modo geral é trágica e cômica", explicou.

    O escritou lembrou de quando conheceu a mulher, com quem vive desde 1947, recitou sonetos e cordéis e confidenciou que é lesado de imaginação. "Todo escritor é um mentiroso, vocês já repararam?", perguntou. "Eu mesmo não tenho imaginação para nada. Eu copio, sou um plagiador cômico", disse.

    Recordou de quando estreou pela primeira vez no Rio de Janeiro a peça "O Auto da Compadecida", em 1957, e a crítica comparou o personagem João Grilo ao anti-herói Macunaíma, de Mário de Andrade. A comparação deixou o escritor, dramaturgo e poeta furioso. "Anti-herói nada. O pai de Macunaíma podia chamar ele um herói sem caráter. João Grilo, não!", esclareceu.

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