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    Falso documentário recria sumiço de escritor francês Michel Houellebecq

    FERNANDA EZABELLA
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE LOS ANGELES (EUA)

    16/04/2014 03h31

    Michel Houellebecq não sabe assobiar e gosta de descascar vegetais para se acalmar. Ele segura seu cigarro de forma engraçada, com os dedos do meio e anular, porque quebrou o indicador no basquete.

    O autor francês, famoso pelos comentários ácidos e persona reclusa, revela suas esquisitices em "O Sequestro de Michel Houellebecq", a ser exibido no Festival Tribeca, em Nova York, neste mês.

    "Queria abordar a vida íntima do francês vivo mais lido no exterior usando como álibi a comédia e despojado de seu folclore provocativo e mediático", disse à Folha o diretor Guillaume Nicloux, que já o havia dirigido no telefilme "L'Affaire Gordji" (2012).

    Divulgação
    O escritor Michel Houellebecq aparece amordaçado no filme que inventa seu sequestro
    O escritor Michel Houellebecq aparece amordaçado no filme que inventa seu sequestro

    O novo longa-metragem, sem data para ser exibido no Brasil, caminha entre a ficção e o documentário para recontar o que aconteceu com o escritor de "Plataforma" quando ele sumiu durante uma semana em 2011 e faltou a um festival europeu.

    Rumores de suicídio e sequestro por grupos árabes rodaram o globo, até ele reaparecer e dizer que tinha simplesmente esquecido o evento.

    CATIVEIRO

    No filme, no entanto, a história é outra. Houellebecq é de fato sequestrado por três irmãos brutamontes e mantido na casa da mãe deles numa região afastada de Paris.

    Apesar das diferenças, o autor acaba ficando amigo da família de criminosos e se apaixona por uma prostituta, levada ao quartinho de refém como presente de aniversário.

    "Michel não participou do roteiro, mas às vezes definíamos alguns temas que seriam abordados. Queria ouvi-lo falar de coisas diversas como Polônia, inspiração criativa, União Europeia, arquitetura", explicou Nicloux, diretor de "La Religieuse" (2013).

    "Queria também que ele mostrasse uma faceta que as pessoas não conhecem, um homem simples, humano, com dúvidas e ansiedades. Um homem capaz de empatia e desprovido de cinismo."

    Houellebecq, 58, surge como um homem fragilizado, de andar curto e fala arrastada, mandando ver um cigarro atrás do outro. Detona Le Corbusier, difama Mozart e critica o talento de pianista da amiga que lhe dá um presente.

    Antes de ser sequestrado e levado dentro de uma caixa de metal, ele interage com conhecidos na rua, como uma mulher que lhe faz compras de supermercado e um colega em frente a uma igreja. Ele comenta que não vai a missas, apenas funerais. "Casamentos também não", completa.

    Momentos de ternura aparecem em situações inusitadas, como quando come um sanduíche algemado e explica a um dos sequestradores como escreve seus romances.

    "O importante é não ter nada, é estar entediado. E daí alguma coisa acontece na sua cabeça, ideias aparecem", explica Houellebecq. "Você não escreve um livro se estiver preocupado esperando uma ligação."

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