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    Escritores e jornalistas discutem regime militar na Bienal de Brasília

    LÚCIO FLÁVIO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE BRASÍLIA

    18/04/2014 16h33

    O tempo fechou no seminário "O golpe, a ditadura e o Brasil: 50 anos", promovido pela Bienal Brasil do Livro e da Literatura, do qual participaram os escritores e jornalistas Luiz Fernando Emediato, Ignácio de Loyola Brandão e Domingos Pellegrini.

    Isso porque o clima maniqueísta entre esquerda e direita que imperou durante o regime militar entrou na pauta e tomou conta do lugar. A celeuma foi uma declaração de Pellegrini que disse que ditadura brasileira, comparada com os outros regimes similares da América Latina, foi branda.

    "Nenhuma ditadura é branda quando você tem amigos presos e mortos, quando não tem liberdade de expressão", contestou o escritor Ignácio Loyola Brandão, autor do clássico "Zero", obra emblemática por ter sido proibida nos anos 1970 pelo regime.

    Mais inconformado ainda, o secretário de Cultura do Distrito Federal, Hamilton Pereira, que lutou e foi preso durante o regime militar, falando da plateia, discordou veementemente da opinião do convidado. "Todos têm o direito de expressar suas opiniões, mas alguns pontos de vistas precisam ser fundamentados para depois serem debatidos", disse ele, citado alguns exemplos de crimes cometidos pelo regime militar.

    "Quando eu estava preso, tivemos a chance de ler na prisão o livro 'Zero', que tinha acabado de sair. A leitura era feita em voz alta", lembrou.

    Emocionado, Ignácio de Loyola Bandão agradeceu o depoimento do secretário. "É por causa de histórias como essas que valeu ter escrito o livro", comentou o autor, que há mais de 40 anos participa de bienais da literatura no Brasil e no mundo. "A gente vê que tem o interesse do público de participar e é por isso que deve ser feito. É por meio de eventos como esses que vamos conscientizando as pessoas e formando os leitores, que é de leitores que a gente precisa", comentou.

    Nem bem chegou na Bienal Brasil do Livro e da Literatura e o escritor e jornalista paulista já está de malas prontas para a 6ª Festa Literária de Pirenópolis, onde será o grande homenageado. O evento acontece entre os dias 30 de abril a 03 de maio na charmosa cidade goiana.

    "Adoro a Flipiri, tenho um carinho muito grande pelo evento que é realizado numa cidade linda, mais linda do que Paraty [RJ] e uma festa feita com amor. Lá a gente vai para escola e vamos falar com alunos", antecipou.

    Ao falar sobre o emblemático livro "Zero", lançado no Brasil em meado dos anos 1970 e reeditado recentemente, foi coerente. "A literatura consegue refletir o momento e passar esse momento pra frente, no fundo hoje 'Zero' é um livro de história", avaliou.

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