Em "The Seasons", criação do coreógrafo canadense Édouard Lock para a São Paulo Companhia de Dança, o que o público vê iluminado em cena é tão importante quanto o que está escondido no escuro do palco.
O diretor do La La La Human Steps, que já trabalhou tanto com grandes companhias de balé quanto com astros pop como David Bowie e Frank Zappa, quer criar "camadas de instabilidades" que mexam com a audiência.
Para isso, faz seu desenho dos corpos em movimento com uma coreografia da luz.
"Meu pai, que fazia lindos desenhos, me disse que as sombras são o truque", conta Lock. É mais do que um artifício estético. Para ele, a cada parte da imagem que a pessoa não vê, ela se mexe, tem que investir dinamicamente para completar o buraco da percepção.
No espetáculo, que terá sua estreia mundial no próximo dia 25, em Campinas, o foco de luz muda incessantemente, obrigando o espectador a "reinicializar o campo visual a cada momento".
Às camadas de luz ele sobrepõe a variação dos tempos. Alternando ou subvertendo a velocidade de movimentos do balé, torna imprevisível o resultado da dança de base clássica.
É o mesmo que faz na música, uma composição do britânico Gavin Bryars, executada ao vivo pelo grupo paulista Percorso Ensemble.
A trilha é baseada em "As Quatro Estações", de Vivaldi (1678-1741). "A ideia era pegar algo conhecido e criar alterações para que ficasse menos reconhecível", conta Lock, que já havia trabalhado com Bryars em obras como "Amjad" (2007).
Lock usa música de Vivaldi de forma ambígua. "Assim como faço com o balé, em alguns momentos sou respeitoso a essas tradições, em outros as modifico", diz.
O resultado é que as pessoas não podem aplicar à obra só conceitos preestabelecidos. "Elas têm que usar a memória corporal para entender o que está acontecendo. Isso cria um estranhamento de seus próprios corpos, que é o que levam para casa depois do espetáculo."
THE SEASONS
QUANDO 25 e 26, às 21h
ONDE Teatro Municipal José de Castro Mendes, r. Conselheiro Gomide, 62, Campinas, SP, tel. (19) 3272-9359
QUANTO grátis