No ano em que Mafalda completa meio século de vida, seu criador, Quino, 81, disse não saber como criou, ao longo de nove anos, tantas tirinhas de sua personagem mais famosa. A personagem foi originalmente publicada de 1964 a 1973 na Argentina.

"Não entendo como eu desenhei tudo isso! É como se outra pessoa tivesse desenhado", afirmou, ao abrir a 40ª edição da Feira do Livro de Buenos Aires, nesta quinta (24). O evento literário tem São Paulo como cidade-tema neste ano.

Aplaudido de pé por uma plateia lotada, o cartunista argentino, que não gosta muito de falar em público ("por isso falo com os desenhos"), respondeu a algumas perguntas dos dois mediadores convidados. Ele contou que se "surpreende" ao ver como criou quadrinhos que, 40 anos depois, parecem ter sido desenhados hoje, caso de Mafalda.

"Aí você se dá conta de que o mundo segue repetindo sempre os mesmos erros. É simples."

	David Fernández/Efe
	Quino durante participação na Feira do Livro de Buenos Aires

Quino também contou que já recebeu muitas propostas para transformar Mafalda em outros produtos, como filmes e peças de teatro, mas sempre recusou. "Eu sou um desenhista que cria sobre o papel. Mafalda nasceu assim e não gosto que queiram mudá-la", disse, arrancando risos do público.

E desmentiu que sua personagem tenha fama mundial. "Minha obra é conhecida na América Latina, na França, na Espanha, em Portugal. É mentira quando dizem que a Mafalda é conhecida no mundo todo."

Sobre os temas que sempre permearam sua obra, disse que se pudesse escolher apenas um, seria o poder. "Eu sempre desenhei muitos restaurantes, porque é um terreno político parecido com o que se passa na sociedade", disse. E explicou: "As pessoas vão querendo comer o que pedem todos os povos do mundo. Aí tem que ver o que te diz o chef, o maître, que falam que não tem, que acabou, que faz mal. E ainda por cima você tem de pagar."

SÃO PAULO COMO TEMA

O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT-SP), e o secretário de Cultura paulistano, Juca Ferreira, estavam na plateia que ouviu Quino.

Haddad disse que a ideia de focar a participação paulistana na literatura marginal da cidade, com 97 autores, foi "uma construção típica do Juca Ferreira, de congregar e mostrar toda a diversidade da cidade".

A Prefeitura de São Paulo arcará com os custos de viagem e participação de 150 escritores e músicos, estimados em R$ 2 milhões.

O grupo Racionais MCs será uma das atrações que a prefeitura levará à capital argentina.

Durante o evento, Haddad e Ferreira anunciaram ter convidado Buenos Aires a participar da Virada Cultural de 2015. "Ainda não sabemos como será essa participação", disse Ferreira.