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    Musical de Zé Celso revisita ditadura e incorpora 'bruxaria'

    GABRIELA MELLÃO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    25/04/2014 03h15

    Zé Celso vê sua obra teatral como um poema contínuo. Em "Walmor Y Cacilda 64 - Robogolpe", espetáculo cuja estreia acontece hoje em São Paulo, o líder do Teatro Oficina vive um velho poeta sem inspiração, incapaz de terminar sua obra.

    O impulso criativo do autor surge após uma tempestade, alusão ao último texto escrito pelo dramaturgo William Shakespeare.

    Em "A Tempestade", esta peça do bardo inglês, o personagem Próspero manipula forças da natureza para se vingar do irmão e recuperar influência política. Ao atingir seu objetivo, abre mão de seus poderes sobrenaturais.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Na rede, à esquerda, o ator Marcelo Drummond; sentada e na tela ao fundo, a atriz Camila Mota
    Na rede, à esquerda, o ator Marcelo Drummond; sentada e na tela ao fundo, a atriz Camila Mota

    "Em 'Walmor Y Cacilda 64 – Robogolpe', assumo o bastão de Próspero", diz o encenador, criador do musical.

    "Assumo a incorporação da bruxaria no teatro como modo de interferência na sociedade. É pretensioso, mas tenho a audácia de defender esse bastão. O teatro quer ter todos os poderes", completa.

    "Walmor Y Cacilda 64 - Robogolpe" é um poema musical que exalta a importância da liberdade e do teatro como meio de renovação social.

    A peça também reflete sobre a relação entre ditadura e arte perpassando momentos da história do país.

    GOLPE MILITAR

    De um lado, estão o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) e o Robogolpe, misto de pessoa e tanque de guerra robotizado que sintetiza o sistema opressor. Do outro, estão artistas e povo. Para eles, a arte é o caminho para manter viva a liberdade. O povo é simbolizado por um dragão de nove cabeças, cada uma delas proclamando reformas no sistema do país.

    Na trama, a atriz Cleyde Yáconis (1923-2013) é presa pelo Dops. Cacilda Becker (1921-1969) está em cartaz com "A Noite do Iguana", de Tennessee Williams, sob direção de Walmor Chagas (1930-2013). É intimada a depor ao lado da atriz Maria Della Costa, também personagem da peça.

    Becker faz do interrogatório um hino à liberdade: "É preciso deixar que as asas cresçam para todos os lados. O voo de todos será mais alto. O teatro é da divina criação humana, merece mais do que ser bem cuidado!"

    Zé Celso escreveu "Walmor Y Cacilda..." em duas semanas, instigado pelas ações culturais promovidas pela Cia. Os Satyros sobre os 50 anos do golpe militar.

    "Passaram-se 50 anos e acho que está tudo a mesma coisa. Vivemos uma insatisfação absoluta e o sistema capitalista mundial continua oprimindo manifestações. Estamos em plena 3ª Guerra Mundial", constata o diretor.

    WALMOR Y CACILDA 64 - ROBOGOLPE
    ONDE Teatro Oficina, r. Jaceguai, 520, tel. (11) 3106-2818
    QUANDO sáb. às 21h, e dom. às 19h; de hoje a 1º/6
    QUANTO R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

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