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    Quarentão e em crise, 'Fantástico' surge recauchutado

    ISABELLE MOREIRA LIMA
    DE SÃO PAULO

    27/04/2014 03h00

    Em meio à mais grave crise de audiência do "Fantástico", a Globo promete uma fase mais dinâmica, interativa e "próxima do público" para o programa, que pode ser conferida a partir de hoje.

    Aos 41 anos, a revista eletrônica aparecerá "de cara e de casa nova", com um estúdio de 500 metros quadrados, onde também funcionarão a Redação, um telão interativo de 25 metros quadrados e um totem sensível ao toque onde os correspondentes nacionais e internacionais aparecerão.

    As alterações, no entanto, serão apenas visuais. A Globo informa que o conteúdo continuará com o "mesmo equilíbrio" entre jornalismo, entretenimento e serviços.

    Divulgação/TV Globo
    Dançarinos durante o "Fantástico - O Show da Vida", na década de 1970
    Dançarinos durante o "Fantástico - O Show da Vida", na década de 1970

    "O que está mudando é o formato de apresentação. O Tadeu [Schmidt] e a Renata [Vasconcellos] vão conduzir o programa de qualquer espaço e tornar a apresentação mais natural", diz o diretor Luiz Nascimento no texto divulgado pela emissora.

    As mudanças são uma tentativa de resgatar o prestígio de outrora. Desde 1º de janeiro deste ano até o último domingo, o "Fantástico" atingiu média de 18,7 pontos no Ibope (cada ponto representa 65 mil domicílios).

    Há dez anos, o cenário era bem diferente: o programa marcou média de 35,8 pontos em 2004 (queda de audiência de 48% em uma década).

    Apesar disso, a revista eletrônica que desde agosto de 1973 vai ar às 20h45 do domingo ainda mantém a liderança no horário. É seguida pelo "Domingo Espetacular", da Record (média de 11 pontos no acumulado deste ano) e pelo "Programa Silvio Santos", do SBT (9,4 pontos).

    Quando foi ao ar pela primeira vez, o programa se propunha a ser um mosaico de todos os departamentos da Globo. "Queríamos fazer uma síntese da emissora, com dramaturgia, entretenimento, circo, jornalismo, humor, balé, música", disse à Folha o criador do "Fantástico" e então diretor de Operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

    Na produção, havia nomes como Ronaldo Bôscoli, Manoel Carlos e Daniel Filho.

    Para Boni, essa ideia se perdeu nos anos 1990, quando a emissora optou por focar no jornalismo. "O programa seguiu outro rumo, tornou-se menos abrangente. Algumas coisas deveriam ser recuperadas, como os clipes que apoiavam a música de qualidade. Isso faz falta, o programa ficou muito pesado", diz.

    "Não dá para dizer se é melhor ou pior, mas não é mais o programa que foi criado. Não é mais 'Fantástico'."

    Analistas afirmam que o "Show da Vida" não aprendeu ainda a tirar partido das chamadas novas tecnologias.

    Estevam Avellar/Divulgação/TV Globo
    Tadeu Schmidt e Renata Vasconcelos, apresentadores do 'Fantástico'
    Tadeu Schmidt e Renata Vasconcelos, apresentadores do 'Fantástico'

    "O 'Fantástico' poderia ter produtos específicos para o Facebook, o Twitter, para a vida além da TV. Não sei se a audiência iria melhorar, mas haveria uma renovação em termos de linguagem", diz Igor Sacramento, professor da Escola de Comunicação da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).

    Para esse professor, o programa de domingo se perdeu na sua própria fórmula de inovação. "Nos anos 1970, o 'Fantástico' era muito esperado, tinha o clipe, a abertura. Com o passar do tempo, não conseguiu se oxigenar, virou um telejornal um pouco mais informal. A coisa mais diferente que fez nos últimos tempos foi usar reality shows como o quadro 'Medida Certa'", diz Sacramento.

    Com ele concorda Arlindo Machado, professor de semiótica da PUC e de Rádio e TV da USP. Falta à revista eletrônica global fazer mudanças radicais, "entender o mundo da convergência".

    "Estão acontecendo coisas interessantes. O Porta dos Fundos, por exemplo. O 'Fantástico' tem que prestar atenção a isso", diz Machado, referindo-se ao grupo de humor que faz vídeos na internet.

    A reportagem tentou por várias vezes ouvir a equipe do "Fantástico" e chegou a ter entrevistas marcadas com diretores e apresentadores, desmarcadas depois por dificuldades de agenda, segundo a assessoria do canal.

    Colaborou BEATRIZ MONTESANTI

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