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    Crítica: 'Juncos' conta história policial com pitadas de thriller científico

    MARCIO SELIGMANN-SILVA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    26/04/2014 03h25

    "Juncos", da jovem e reconhecida romancista alemã Juli Zeh, é uma obra híbrida. Trata-se de um romance policial com fortes pitadas de thriller científico.

    A história transcorre na idílica cidade de Freiburg, cercada pela Floresta Negra e cuja paisagem urbana e cultural é marcada por sua famosa universidade.

    Nesse cenário, crimes inexplicáveis se sucedem: na clínica universitária, pacientes morrem aparentemente devido a experimentos com remédios ainda não liberados.

    Divulgação
    A alemã Juli Zeh, autora do romance 'Juncos', no qual crimes inexplicáveis se sucedem
    A alemã Juli Zeh, autora do romance 'Juncos', no qual crimes inexplicáveis se sucedem

    Ao mesmo tempo, um assassino, que se diz um habitante do futuro, mata suas vítimas que, segundo ele afirma, ainda permanecem vivas no tempo de onde ele veio. Ele, portanto, não poderia ser incriminado por seus atos.

    No centro da história, dois grandes físicos, Sebastian e Oskar, disputam quanto à possibilidade de existirem universos paralelos, o que poderia inocentar o "assassino vindo do futuro".

    Sebastian crê em tal possibilidade. A tese dos mundos paralelos seria um desdobramento da mecânica quântica, para a qual um sistema pode assumir ao mesmo tempo todos os seus estados potenciais.

    O universo seria uma pilha de panquecas, cada uma assumindo uma possibilidade de seu desdobramento. Essa é a fascinante teoria que pontua o livro, mas que é também ridicularizada pelo mefistofélico Oskar, pura inteligência e arrogância. Para ele, essa teoria é teologia disfarçada.

    A intriga do romance leva ao embate entre esses dois amigos. A amizade passa a ódio destrutivo, para se revelar, finalmente, mesmo que de modo sutil, um amor mútuo não realizado. Isso confirma o lema de Sebastian, que acaba se aplicando à sua própria vida: "Tudo que é possível acaba acontecendo".

    Junko, o comissário de polícia, misto de Sherlock Holmes e de Hercule Poirot, é a outra estrela da história. Ele sofre de um tumor, que lhe condena a poucos dias de vida: apenas o suficiente para elucidar o caso de homicídio em que Sebastian se enreda.

    Ele tenta ao mesmo tempo desvendar o crime e salvar o criminoso. Nada mais complicado. No entanto, Juli Zeh, que é advogada de formação, encontra argumentos não jurídicos para resolver a sua trama a contento.

    O mais importante nesse tipo de livro é o suspense. Esse suspense tem efeitos somáticos evidentes. Junko, o detetive moribundo, não por acaso, não cessa de mostrar sua avantajada barriga e sempre está atrás de guloseimas.

    Ao devorar um livro desses acabamos com fome e a comida parece a melhor forma de, finalmente, nos saciarmos.

    MÁRCIO SELIGMANN-SILVA é professor de teoria literária da Unicamp.

    JUNCOS
    AUTORA Juli Zeh
    TRADUÇÃO Marcelo Backes
    EDITORA Record
    QUANTO R$ 60 (350 págs.)
    AVALIAÇÃO regular

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