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    Homenagem na Flip inspira edições inéditas de clássicos de Millôr

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    26/04/2014 03h01

    Num ano de protestos, eleições e Copa no Brasil, também vai ter muito Millôr.

    A homenagem que a 12ª Flip (Festa Literária Internacional de Paraty, que vai de 30 de julho a 3 de agosto) fará ao artista motivou uma série de livros que chega às livrarias nos próximos meses.

    Cada título ilustra a vastidão incontornável de seus talentos: Millôr Fernandes (1923-2012) foi jornalista, escritor, desenhista, tradutor, teatrólogo, humorista, frasista. Não menos que sensacional em cada um desses ofícios.

    Reprodução
    Autorretrato de Millôr Fernandes
    Autorretrato de Millôr Fernandes

    Ao menos dois dos lançamentos trazem materiais inéditos em livro. O IMS (Instituto Moreira Salles) publica durante a Flip "Millôr: 100 Frases + 100 Desenhos".

    Partindo da seleção de máximas organizada pelo jornalista Sérgio Augusto para os "Cadernos de Literatura Brasileira" dedicados a Millôr, em 2003, o caricaturista Cássio Loredano escolheu uma centena de ilustrações, nunca antes editadas em livro, que dialogassem de alguma forma com as frases.

    Não foi um trabalho fácil para nenhum dos dois. Millôr deixou em torno de 15 mil aforismos. O acervo do artista, em posse do IMS desde o ano passado, possui quase 7.000 desenhos. "Foi um desafio comparável ao de escolher as três ou quatro melhores músicas de Tom Jobim, os três ou quatro gols mais bonitos do Pelé", compara Sérgio Augusto.

    Editoria de Arte/Folhapress

    "Mais que um frasista brilhante, da estirpe de Oscar Wilde e Groucho Marx, Millôr foi um filósofo notável, e, sem sombra de dúvida, o mais engraçado", completa.

    Com "muita dor no peito", Sérgio Augusto elenca entre suas tiradas prediletas as seguintes: "O dinheiro não é tudo. Tudo é a falta de dinheiro" e "Um desses livros que quando você larga não consegue mais pegar".

    Loredano, consultor do acervo de Millôr, planeja para o ano que vem uma grande exposição com o material e a publicação de livros que agrupem os desenhos de acordo com os temas —como casamento, mulheres e corrupção.

    LONGA HISTÓRIA

    O outro título inédito, "Guia Millôr Fernandes da História do Brasil", também exigiu uma longa imersão de seus dois organizadores, Ivan Fernandes, filho do artista, e Leila Name, diretora de literatura da Nova Fronteira até o fim deste mês (está de mudança para a Leya).

    "A seleção foi dificílima, pois o acervo é gigantesco. Mas até brincava com o Ivan que eu devia pagar para fazer esse trabalho, de tanto que me diverti", conta Name.

    Eles compilaram cerca de cem desenhos e textos, publicados na impressa nos últimos 60 anos, nos quais Millôr recontava a história do Brasil, das caravelas de Cabral ao governo Lula.

    "O Millôr foi um dos últimos grandes pensadores do Brasil. Esse apanhado que fizemos demonstra que ele sempre teve um posicionamento consistente, ético, firme, uma maneira de pensar muito independente e original", explica Name.

    A Companhia das Letras, por sua vez, irá reeditar quatro livros esgotados há anos, entre eles clássicos de Millôr como "Esta É a Verdadeira História do Paraíso" (1972).

    Além de uma edição que promete valorizar os traços do artista, cada título terá textos de introdução inéditos de nomes do jornalismo e do humor.

    Um dos amigos mais próximos de Millôr, Ziraldo assina a apresentação de "Essa Cara Não me É Estranha e Outros Poemas" (1967).

    "O Millôr nunca teve a pretensão de ser poeta. Se tivesse se dedicado apenas a isso, seria um dos grandes poetas da língua", comenta Ziraldo, para quem o grande talento de Millôr estava na escrita, não nos desenhos.

    "Millôr era um filósofo que nunca estudou filosofia. Foi o pensador brasileiro mais importante do século 20."

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