• Ilustrada

    Saturday, 04-May-2024 22:32:53 -03

    Crítica: Cinebiografia 'Getúlio' é filme persuasivo, apesar de didático

    OTAVIO FRIAS FILHO
    DIRETOR DE REDAÇÃO

    30/04/2014 02h04

    Antigamente, o perigo que o espectador de um filme brasileiro corria era o de ser submetido à idiossincrasia verborrágica do diretor, cuja autenticidade pretendia desculpar as carências da produção e o amadorismo do roteiro.

    Hoje o risco é oposto, pois o cinema se profissionalizou à custa de imitar o padrão televisivo —o didatismo rasteiro das novelas— e de vampirizar a audiência de suas celebridades.

    "Getúlio", de João Jardim, pertence a esse modelo, embora evite seus cacoetes. Logo que Tony Ramos aparece com uma pança imensa, remotamente parecido com o original, uma cascata de heróis de telenovela (junto com o garoto-propaganda do anúncio de carne) despenca entre o espectador e a tela.

    Divulgação
    Ramos, com roupa especial para imitar a barriga de Vargas
    Ramos, com roupa especial para imitar a barriga de Vargas

    Mas esse ator competente aos poucos os dispersa e impõe um Getúlio que, sem ser empolgante, é persuasivo. O filme compartilha essas qualidades. Os últimos dias do presidente são narrados em chave documental, com veracidade e ritmo.

    É comum que filmes históricos brasileiros focalizem seu tema sob a distorção de uma caricatura histriônica. Neste, até mesmo o tradicional maniqueísmo que liga Getúlio Vargas ao "bem" e seus adversários ao "mal" fica matizado.

    O ponto de vista adotado é o do protagonista e seu círculo íntimo. Grande, demasiada parte do filme acontece no próprio palácio do Catete, no Rio. A fotografia é solene sem deixar de ser elegante, mas se torna cansativa quando a câmera passeia pela enésima vez entre lustres e cristais.

    O problema do didatismo, desafio em todo filme histórico, é resolvido apenas em parte no roteiro de George Moura. O ideal é que as informações estejam de tal forma entremeadas nos diálogos que sua presença soe natural, despercebida.

    Não é o que ocorre quando, por exemplo, dois colegas de ministério se referem, numa conversa, a um terceiro pelo nome inteiro e pelo cargo, que ambos estão cansados de saber qual é.

    Tancredo Neves (Michel Bercovitch) era firme, mas é difícil imaginá-lo ríspido. Benjamin Vargas (Fernando Luis), irmão do presidente, parece às vezes ter sotaque português. Não é verossímil que Getúlio tenha dormido nas horas que antecederam o amanhecer, quando se suicidou.

    Mas o conjunto sobrevive bem a esses percalços, com a ajuda luminosa de Drica Moraes como a secretária diligente e a filha amorosa que Alzira Vargas foi, refrescando a cena cada vez que aparece entre tantos homens carrancudos.

    GETÚLIO
    DIREÇÃO João Jardim
    PRODUÇÃO Brasil, 2014
    ONDE Cinépolis JK Iguatemi, Cinemark Cidade Jardim, Cinemark Pátio Higienópolis, Espaço Itaú - Pompeia, Kinoplex Itaim, UCI Jardim Sul e circuito; estreia amanhã
    CLASSIFICAÇÃO 12 anos
    AVALIAÇÃO bom

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024