• Ilustrada

    Saturday, 27-Apr-2024 23:00:35 -03

    Crítica: Filme sobre veterano Harry Dean Stanton aborrece com silêncio

    ANDRÉ BARCINSKI
    COLUNISTA DA FOLHA

    05/05/2014 02h30

    Por que fazer um filme sobre alguém que não se abre, se recusa a falar do passado, responde a todas as perguntas com evasivas e parece não se sentir confortável ao falar de si mesmo? "Harry Dean Stanton: Partly Fiction", o documentário de Sophie Huber sobre o ator norte-americano, é um filme que deixa no ar mais dúvidas que respostas.

    O filme é tão lindo de aparência quanto vazio de conteúdo. A fotografia é uma beleza, com um preto e branco expressionista; a trilha sonora é minimalista e elegante.

    Mas a tentativa de penetrar na história de vida de Stanton, ator de 87 anos e mais de 200 filmes, que lutou no Pacífico na Segunda Guerra e foi amigo de Marlon Brando, encontra um entrevistado reticente e pouco cooperativo.

    Stanton não fala, murmura. Diz que não quer falar dos pais ou da juventude. Passa 80% do tempo cantando. Diz não saber se tem filhos. Quando o amigo David Lynch, que o dirigiu em seis longas, pergunta como ele quer ser lembrado, responde: "Não importa". Talvez não importe mesmo. Mas se é o caso, por que aceitou fazer o filme?

    Divulgação
    O ator norte-americano Harry Dean Stanton fuma no carro, em cena do filme "Harry Dean Stanton: Partly Fiction"
    O ator norte-americano Harry Dean Stanton fuma no carro, em cena do filme "Harry Dean Stanton: Partly Fiction"

    Stanton já tinha uma carreira de 30 anos e mais de 130 filmes como coadjuvante, quando Wim Wenders o colocou no papel principal de "Paris, Texas", em 1984.

    Ele trabalhou com Coppola, Hitchcock, Monte Hellman, Sam Peckinpah, John Carpenter, Lynch, Ridley Scott e muitos outros. Mas o filme não explora esse passado rico. Há poucas cenas de arquivo e uma ou outra foto de infância.

    As entrevistas mais interessantes são de artistas que trabalharam com ele: Wenders, Lynch, Sam Shepard, e Debbie Harry. Shepard elogia seu estilo minimalista e lacônico: "Ele não precisa dizer muito. Seu rosto já é uma história".

    E Stanton não diz muito mesmo. Em vez disso, bebe no bar favorito e vaga por Los Angeles com um ar triste. OK, entendemos, ele é um tipo solitário, um desses heróis existencialistas de filme "noir", que somem na escuridão. Mas uma hora e meia de melancolia é demais. E Stanton entedia o espectador, o que nunca fez nos filmes dos outros.

    HARRY DEAN STANTON: PARTLY FICTION
    DIREÇÃO Sophie Huber
    PRODUÇÃO Suiça, 2012
    ONDE Cinesesc (hoje, às 19h, r. Augusta, 2.075, R$ 10) e Centro Cultural São Paulo (amanhã, às 20h, r. Vergueiro, 1.000, R$ 1)
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos
    AVALIAÇÃO regular

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024