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    Vestidos esculturais do estilista Charles James são expostos em NY

    ISABEL FLECK
    DE NOVA YORK

    11/05/2014 02h40

    Os visitantes circulam em torno de cada um dos vestidos expostos numa das galerias especiais do Metropolitan Museum, em Nova York.

    A cada passo, um novo ângulo surpreende ainda mais que o anterior: parece não haver qualquer parte nos vestidos do anglo-americano Charles James que não tenha sido estrategicamente calculada para valorizar o corpo da mulher.

    Era um "estilista de 360 graus", define Harold Koda, curador da mostra "Charles James: Além da Moda", escolhida para ocupar não só essa galeria —do último dia 8 até 10/8—, como para reinaugurar o centro do instituto de moda do museu, que ficou por dois anos em reforma.

    Utilizando fundamentos não só de moda, mas também de matemática e até engenharia, James (1906-1978) criou um estilo próprio, que influenciou nomes como Balenciaga e Christian Dior —o "new look", com saia ampla na altura do joelho e jaqueta, criado por ele, foi inspirado nas criações de James-, e vestiu a alta sociedade nova-iorquina nos anos 40 e 50.

    No entanto, seu nome nunca ganhou o destaque dado a seus contemporâneos entre o grande público. Isso fez com que sua obra, com o passar dos anos, acabasse se limitando à pesquisa de estudantes de moda e jovens estilistas.

    "James é um segredo perdido. Mas por ele ter sido relativamente esquecido, temos agora essa chance de reapresentá-lo ao público, o que é um presente para nós", disse Koda a jornalistas.

    Além de apreciar o resultado final, em cerca de 75 modelos que vão dos vestidos de gala aos chapéus desenhados por James no início da carreira, os visitantes ainda podem "dissecar" seu trabalho por meio de animações de vídeo que reproduzem a criação e montagem dos vestidos.

    Com o auxílio de pequenos projetores de luz que se movimentam sobre as peças, é possível entender a estrutura de looks como o estonteante "Clover Leaf Ball Gown", cujas ondas de textura diferente na saia lembram, de fato, uma folha de trevo.

    Nele, a aparente assimetria do resultado final só é possível com o perfeito encaixe das partes dentro de um círculo. E da calculada mistura de diferentes texturas e cores -neste caso, veludo preto sobre cetim de seda branco.

    "Meus desenhos não são bens de luxo. Eles representam pesquisa em moda", explica o próprio James, em uma das frases estampadas na parede de uma das galerias.

    Os modelos com a cintura fortemente marcada e volumes estrategicamente posicionados mostram a preocupação de deixar o corpo feminino mais sensual.

    Para James, nada restaurava mais a confiança de uma mulher do que "produzir algo que a faça enxergar o seu melhor". E foi nisso que ele se empenhou durante a carreira. "Meus vestidos ajudam as mulheres a descobrir personalidades que elas nem sabiam que tinham."

    O estilista chegou a fazer, nos anos 70, uma lista de personalidades que gostaria de ter vestido. Entre elas, a cantora Maria Callas e as atrizes Audrey Hepburn e Ava Gardner. Mas também Lou Reed —"o depravado que se move como um poema"—, David Bowie —dono de uma "beleza andrógina"— e Mick Jagger —"aquele bastardo sexy".

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