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    Análise: Intérprete único, Jair Rodrigues imprimia marca em qualquer gênero

    LUIZ FERNANDO VIANNA
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    09/05/2014 02h15

    Jair Rodrigues cantava com tanta alegria que até incomodava. Suas interpretações exageradas às vezes prejudicavam as músicas. Mas a graça, com ou sem trocadilho, estava nesse excesso.

    Ele se profissionalizou em São Paulo no momento em que o estilo de João Gilberto se impunha como paradigma. E seguiu firme na direção contrária. Acertou.

    Em vez de virar mais um epígono mediano de João, tornou-se um intérprete único, que imprimia sua marca a qualquer gênero: sambas, toadas e até o proto-rap "Deixa Isso pra Lá", seu primeiro grande sucesso, de 1964.

    Na dupla com Elis Regina, firmou uma bossa nova 2.0: agitada, em alto volume e com toques políticos.

    Aliás, se o aparentemente apolítico Jair percebeu todo o clamor que havia em "Disparada" —covencedora do Festival da Record de 1966, com "A Banda", de Chico Buarque—, não se sabe bem, mas foi sua voz quem deu à música a força necessária.

    E é o que ele costumava fazer com os sambas, certamente o seu melhor terreno. Transformou o carnavalesco "Tristeza" numa beleza de qualquer estação ou estado de espírito.

    E assim foi com "Triste Madrugada" e com os sambas-enredos do salgueirense Zuzuca, por exemplo.

    Artista da indústria, buscou o sucesso também na seara sertaneja e em romantismos diversos.

    Agora, em 2014, fez uma profissão de fé ao gravar dois CDs com o título "Samba Mesmo". O resultado foi irregular, mas a alegria era a mesma de sempre.

    "O Sorriso do Jair" (título do seu disco de 1966) foi uma proposta existencial e até estética. Vai ficar para sempre.

    LUIZ FERNANDO VIANNA é coordenador de internet do Instituto Moreira Salles

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