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    Filme italiano não sustenta pressão de 'A Grande Beleza' em Cannes

    RODRIGO SALEM
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CANNES

    17/05/2014 21h15

    Um ano atrás, o italiano "A Grande Beleza" começava em Cannes o caminho que o levaria à consagração no Oscar —negada pelo festival francês, que deixou o longa de Paolo Sorrentino a ver navios. É de se pensar que o júri olhasse com mais carinho para o único representante da Itália em 2014, mas o encanto não deve acontecer com o apenas doce "Le Meraviglie", da diretora Alice Rohrwacher ("Corpo Celeste").

    Em comum com "A Grande Beleza", o longa tem apenas o subtexto sobre uma velha Itália que dá lugar a um país estranho, antenado com o mundo, porém desconectado de suas tradições. Alice usa uma família de apicultores da Úmbria cujo centro de organização repousa nos ombros de uma menina de 12 anos, Gelsomina (Maria Alexandra Lungu).

    Extremamente precoce para sua idade —em parte por causa da constante pressão do pai (Sam Louwyck), que trata os filhos como empregados—, Gelsi vê a chance de modernizar a fazenda com a chegada de um reality show apresentado por uma espécie de Cher italiana (Monica Bellucci, em participação especial). O programa coloca fazendeiros em uma disputa mal explicada de talentos por um dinheiro capaz de mudar a vida de qualquer um na região.

    O pai, claro, é contra e luta para manter o status romântico e tosco da fonte de seus rendimentos. Dorme do lado de fora para espantar caçadores pela área (uma metáfora nada discreta), não quer mudar o sistema de engarrafamento do seu mel e se gaba de ter um produto orgânico —mesmo que jogado em baldes pouco higiênicos. Ele chega ao cumulo de entrar em um programa de reabilitação de menores delinquentes apenas para ganhar um menino (seu sonho de pai) na mão de obra.

    O filme possui uma delicadeza inocente, principalmente gerada pela interpretação de Maria Alexandra. A cineasta, contudo, rege sua trama como se fosse uma técnica de vôlei treinando para o atacante cortar. A partir dos primeiros 15 minutos, você já tem uma ideia bem clara de como o filme termina ou como as sequências dramáticas aparecerão. Seja um truque com abelhas, seja o balde que precisa ser trocado para o mel da fazenda não vazar, cada cena é antecipada sem a menor sutileza.

    "Le Meraviglie" pode convencer o júri liderado por Jane Campion por seu espírito feminista. Mas suas chances residem mais na revelação Maria Alexandra, que lembra a atriz Keisha Castle-Hughes, também neozelandesa e indicada ao Oscar com apenas 12 anos por "A Encantadora de Baleias" (2002). Pode ser uma teoria bastante forçada, mas não atrapalha na busca por um lugar na premiação do próximo sábado (24).

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