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    Crítica: 'Relatos Salvajes' parece comédia exuberante, mas decepciona

    PEDRO BUTCHER
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, DE CANNES

    19/05/2014 02h15

    Em sua primeira sessão para a imprensa, "Relatos Salvajes" já arrancou gargalhadas da plateia, antes mesmo de seus créditos iniciais.

    É uma reação raríssima para os filmes da competição em Cannes, em geral marcada pela seriedade e pelos temas relevantes.

    As poucas exceções à regra costumam oferecer um tremendo alívio, o que, por si só, já confere ao filme um diferencial automático em relação ao conjunto, uma certa vantagem em direção a uma recepção positiva.

    Por alguns minutos, o argentino Damián Szifrón pareceu levar à competição deste ano o sopro de renovação tão necessário, em um painel dominado por cineastas veteranos, poucas vezes capazes de surpreender. O prólogo é uma pequena peça cômica de "timing" perfeito e imagens inusitadas.

    As histórias que se seguem não têm relação com as anteriores, tornando evidente que o filme traz uma estrutura original, formada por curtas independentes, com novos personagens e tramas. Os pontos comuns são só o humor negro e o tema da vingança.

    Cannes Film Festival/Efe
    As atrizes Julieta Zylberberg (esq.) e Rita Cortese no longa de Damián Szifrón, que está na competição oficial de Cannes
    As atrizes Julieta Zylberberg (esq.) e Rita Cortese no longa de Damián Szifrón, que está na competição oficial de Cannes

    Concisas e cruéis, as duas histórias após o prólogo poderiam ter sido extraídas do excepcional livro "Crimes Exemplares", de Max Aub, uma compilação de microcontos às vezes formados por apenas uma frase, sempre descrevendo crimes violentos e banais.

    O terceiro curta é uma espécie de recriação de "Um Dia de Fúria", cultuado filme de 1993 com Michael Douglas. Agora, o ator argentino Ricardo Darín é o cidadão que explode (no caso, em sentido mais literal) depois de ter seu carro rebocado.

    A quarta história, por sua vez, mais parece uma recriação ainda mais cínica de "3 Macacos", de Nuri Bilge Ceylan (exibido aqui mesmo em Cannes, em 2008). É sobre um homem rico que pede ao empregado para assumir um atropelamento cometido por um membro da família.

    O último capítulo, enfim, narra uma festa de casamento que vai ganhando contornos absurdos, ao mesmo tempo em que garante ao diretor um desejado final feliz.

    Mas a promessa que se esboça nos primeiros minutos não se confirma. O que poderia ser uma comédia exuberante, original e ultraviolenta se revela apenas mais um filme "portfólio" —aquele em que o cineasta está mais interessado em exibir suas habilidades do que trazer um olhar original.

    A estranheza dos primeiros episódios é substituída por tramas bastante pueris que, sob o refúgio do cinismo, nada mais são do que aqueles resmungos do tipo "classe média sofre", reiterando apenas aquilo que o público espera ouvir.

    RELATOS SALVAJES
    DIREÇÃO Damián Szifrón
    PRODUÇÃO Argentina/Espanha, 2014
    AVALIAÇÃO regular

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