A expectativa em torno de "Cloud of Sils Maria", filme de Olivier Assayas, era grande em Cannes. Não só por Assayas, um dos diretores mais interessantes da França, entregar seu primeiro longa em inglês: a produção, exibida nesta sexta (23), era a última esperança de um favorito à Palma de Ouro no meio de filmes apenas bons -nada espetaculares.

Mas não foi o que aconteceu. Após uma sequência poderosa com "Carlos" (2010) e "Depois de Maio" (2012), o cineasta caiu na armadilha do filme metalinguístico que assombra a produção francesa —coincidência ou não, em 2013 foi a vez de Roman Polanski misturar realidade e ficção em "A Pele de Vênus", também fechando o festival.

"Clouds of Sils Maria" narra a história de Maria Enders (Juliette Binoche, ótima como sempre), uma atriz francesa experiente em viagem para a Suíça com a assistente americana (Kristen Stewart, que não compromete) para homenagear o diretor de seu grande filme.

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	As atrizes Juliette Binoche e Kristen Stewart (ao fundo), em cena de 'Clouds of Sils Maria'

Maria é chamada para fazer um remake desse longa, assumindo, no entanto, o papel da mulher mais velha, deixando o da mais jovem, que foi dela no passado, para uma estrelinha hollywoodiana (Chloë Grace Moretz, emulando Lindsay Lohan).

PARANOIA

Ao ensaiar para o longa, a atriz e a assistente começam a entrar em uma paranoia (chata) metalinguística que discute a mudança da percepção da arte com a idade e o momento do cinema hollywoodiano. A mesma premissa foi mais bem trabalhada em "Maps to the Stars", de David Cronenberg, exibido no início da semana.

"A atriz possui três identidades, porque vive em lugares diferentes: em casa, nas locações e na percepção das pessoas", disse o diretor.

"Tento achar o novo, porque é como me mantenho criativa", afirmou Juliette. "Quase não houve ensaio. Nós nos jogamos no filme com confiança no diretor."

Kristen Stewart, cuja personagem defende a ação de paparazzi e adora "uma fofoca de celebridades", não compareceu ao festival para promover o filme.

A disputa pela Palma de Ouro, que será entregue hoje, está confusa. As apostas dos especialistas estão em três longas: o japonês "Still the Water", de Naomi Kawase, o turco "Winter Sleep", de Nuri Bilge Ceylan, e "Deux Jours, Une Nuit", dos belgas Jean-Pierre e Luc Dardenne.