Vitruvius, arquiteto romano, atuante no século 1 a.C. e autor do mais antigo tratado de arquitetura conhecido no Ocidente, propunha como princípios: estabilidade, funcionalidade e beleza. Na história, vemos obras que privilegiam um deles, deixando os outros em segundo plano.

Certamente, reconhecemos obras-primas quando são alcançados simultaneamente patamares de excelência nos três fundamentos.

A obra de João Filgueiras Lima, o Lelé, ultrapassa esse nível de excelência, ampliando o entendimento desses princípios ao propor avanços em sistemas construtivos, novos parâmetros de criação formal e integração das artes plásticas à obra arquitetônica, além de buscar concatenação das demandas de especificidades técnicas impostas pelos contratantes com a solução espacial e construtiva.

Projetava formas originais decorrentes do processo construtivo, percebidas com prazer tanto pelo público erudito como pelo de escolaridade mais baixa, ao qual destinava parte de seus projetos.

A maneira como projetava levou-o a desenvolver os equipamentos necessários para a fabricação e montagem de componentes. Assim, ampliou seu ofício, tornando-o atividade inserida na produção industrial, aprofundando o conceito de construção como montagem de componentes pré-fabricados. E contribui para a valorização do homem, ao tornar menos penoso o trabalho no canteiro de obras.

A integração com as equipes dos contratantes possibilitava, por outro lado, o desenvolvimento de mobiliário e de equipamentos que complementavam e valorizavam a funcionalidade dos edifícios, a exemplo dos notáveis móveis desenvolvidos para os seus hospitais.

Perdemos um dos maiores expoentes da arquitetura brasileira. Ficamos com a lembrança de alguém que acreditava ser necessário inovar e procurar o melhor para seus semelhantes. A nós cabe a missão de difundir sua obra.

LÚCIO GOMES MACHADO, 68, arquiteto, é professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP e diretor da GMAA (Gomes Machado Arquitetos Associados)