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    Crítica: Memorial expõe feridas dos atentados de 11 de setembro

    RAUL JUSTE LORES
    ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

    26/05/2014 03h01

    Mostra revela fotos de terroristas e os vídeos gravados nos aeroportos

    Projeções do momento em que pessoas se atiravam do World Trade Center em chamas são exibidas no recém-inaugurado Museu-Memorial do 11 de Setembro. Um alerta fora da sala avisa que são imagens "perturbadoras".

    Salas têm os sons onipresentes de recados em secretárias eletrônicas de vítimas que procuravam acalmar mães e esposas.

    O visitante se pergunta: é apelativo? Ou é necessário? Poucos museus tiveram que se equilibrar em tantos ovos pelo caminho como este que pretende preservar objetos, homenagear as vítimas e contar a tragédia mais televisionada do século para as gerações que mal se lembram do que aconteceu há 13 anos.

    Ao visitar o museu quase todo subterrâneo, que ocupa o equivalente a oito andares de garagens do que foram as Torres Gêmeas, as polêmicas que envolveram sua construção permanecem bem vivas. Líderes muçulmanos abandonaram a comissão do museu por discordar de um vídeo em apresentação permanente, "A Ascensão da Al-Qaeda", que sublinha o terrorismo islâmico.

    Allan Tannenbaum - 15.mai.2014/AFP
    Estruturas que restaram do World Trade Center, em NY
    Estruturas que restaram do World Trade Center, em NY

    Ao contar como Osama Bin Laden foi lutar no Afeganistão contra a União Soviética, o texto diz que a CIA, agência de inteligência americana, apenas financiou os afegãos. "Bin Laden e os guerrilheiros estrangeiros tinham seu próprio financiamento." Dezenas de livros escritos por historiadores e jornalistas americanos dizem o contrário.

    POLÊMICAS

    Sobreviventes quiseram vetar a exposição de fotos dos terroristas e os vídeos das câmaras de segurança dos aeroportos, antes que eles sequestrassem os aviões. Mas eles estão lá na mostra.

    Familiares também protestaram porque no museu ficarão depositados 14 mil restos mortais não identificados de vítimas da tragédia.

    Apesar de inacessível aos visitantes, incomoda os parentes saber que o ambiente ficará cheio de turistas, que pagarão US$ 24 pela entrada -o museu não tem fundo federal, então terá de contar com o dinheiro dos ingressos para sua manutenção.

    No local uma loja de suvenires vende, por exemplo, camisetas estampadas com as torres do World Trade Center.

    Desenhada pelo escritório Davis Brody Bond, a arquitetura do museu driblou melhor que a curadoria das exposições as polêmicas familiares, religiosas e simbólicas. O resultado impressiona.

    As limitações físicas do lugar foram dribladas por uma generosa rampa de madeira escura, inspirada na que serviu a operários e voluntários durante a temporada de resgate e limpeza de escombros.

    A rampa serpenteia ao longo dos andares do museu, com mirantes de onde se veem dois enormes tridentes que restaram, parte dos arcos da fachada das torres, e o paredão de concreto das fundações do World Trade Center, de 21 metros de altura, quase um prédio de sete andares, que protegeu a área de inundações do vizinho aterro no rio Hudson.

    A descida pela rampa, em procissão, conduz a espaços de concreto e alumínio, onde o subterrâneo se revela mais claro e silencioso. Reverência ao passado, patriotismo e algo de mitomania, tão caros à cultura americana, acham comedimento na arquitetura.

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