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    Walter Salles se encontra com jovens cineastas em Cannes

    LETICIA CONSTANT
    DA RFI

    21/05/2014 20h00

    O diretor Walter Salles ("Central do Brasil" e "Diários de Motocicleta") se encontrou com jovens cineastas de diferentes lugares do mundo, durante o 67º Festival de Cannes, que se encerrou no último sábado (24).

    O encontro fez parte do projeto Fábrica dos Cinemas do Mundo, criado pelo Instituto Francês, a Organização Internacional da Francofonia, o Festival de Cannes e o Mercado do Filme. Nele, dez diretores que estão desenvolvendo seu primeiro ou segundo filme são convidados para comparecer ao festival, onde recebem um acompanhamento personalizado, aprendem a se posicionar no mercado e a desenvolver uma rede de contatos profissionais.

    Neste ano foram selecionados dez projetos —entre 125 candidatos— vindos da África do Sul, Argélia, Bangladesh, Brasil, Cuba, Síria, Venezuela, Geórgia, Laos e Senegal.

    Loic Venance/AFP
    O diretor Walter Salles (4º à dir.), com os jovens diretores da Fábrica dos Cinemas do Mundo, em Cannes
    O diretor Walter Salles (4º à dir.), com os jovens diretores da Fábrica dos Cinemas do Mundo

    NOTÍCIAS DOS CINEMAS DO MUNDO

    "Participar deste evento é uma oportunidade única de receber notícias de cinematografias que conhecemos pouco. Se você entende o cinema como um instrumento de conhecimento do mundo, e eu acho que é isso que ele é, essa Fábrica dos Cinemas do Mundo' te possibilita receber essas notícias", disse Walter Salles na ocasião do encontro.

    O diretor citou um debate muito inspirador que teve com os participantes sobre a realidade do cinema em cada um dos seus países. Segundo ele, aprendeu muito sobre "a situação da sétima arte em latitudes muito diferentes".

    "Não tinha ideia do que acontece no cinema em Bangladesh nem da situação no Marrocos, onde tem três salas de cinemas. Na Argélia é a mesma coisa, e no Laos tem apenas uma sala", observou o diretor, lembrando que, no entanto, os cineastas inventam formas muito criativas de exibição, levando projetores e telas para multiplicar a experiência e permitir o acesso das pessoas aos filmes que estão realizando.

    O PONTO COMUM

    Sobre os temas dos enredos selecionados, Salles explicou que a maioria fala de crise de identidade ou da busca por uma.

    "Quase sempre, essa crise ou essa busca reflete algo mais amplo: o momento específico pelo qual passa um país ou uma cultura. Esta sobreposição desvenda não somente muito da história mas também daquele mundo específico", disse.

    "O outro ponto comum tem a ver com o que podemos chamar de 'fogo sagrado' que move cada um desses realizadores que, mesmo num momento tão difícil para a distribuição de cinema, ainda estão acreditando, estão habitados pelo desejo de propor esse reflexo de suas sociedades através de uma câmera. E é isso que deixa a gente bastante otimista", completou o diretor.

    BRASIL, CINEMA E IDENTIDADE

    O fato de o Brasil não estar presente na competição pela Palma de Ouro não significa um enfraquecimento da produção nacional, segundo o cineasta. Ele lembra que no Festival de Berlim o país esteve muito bem representado com "Praia do Futuro", de Karim Ainouz.

    "Na paralela de Berlim tinha diversos filmes brasileiros também e devemos voltar à competição em Veneza, mas é muito difícil saber se os filmes brasileiros deveriam ter sido escolhidos pois não vimos ainda os que foram selecionados e estariam competindo com eles".

    Walter considera que a cinematografia brasileira está renascendo depois de um longo momento em que a opção foi recuperar o público, o que transformou a comédia na tendência dominante, "mas esse gênero não viaja ou viaja pouco".

    Reconhecendo o mérito desta reconquista, Salles analisa que é preciso olhar além e voltar a produzir filmes de autor, filmes mais exigentes. Como exemplo, ele citou "Todos os Mortos", codirigido por Caetano Gotardo e Marco Dutra, que representou o Brasil na "Fábrica" deste ano.

    "Este filme pode estar neste festival daqui a dois anos, mas para isso é preciso que ele possa existir no Brasil, que possa ser financiado. Acho que estamos começando a fazer isso".

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