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    Crítica: Ritmo e ironia marcam texto dos anos 1930 de 'Vidas Privadas'

    DE SÃO PAULO

    28/05/2014 02h34

    Lavínia Pannunzio, como Amanda, é quem mais se delicia com as tiradas cortantes, escolhidas a dedo por Noël Coward (1899-1973) em "Vidas Privadas" —e traduzidas com igual precisão por Marcos Renaux.

    Já experiente em dramaturgia inglesa, a atriz se esforça por tirar tudo o que Coward explora ou insinua no texto de quase um século atrás.

    Aspectos de um relacionamento não dão motivo para melodrama novelesco nem preconceito, como se vê até hoje, e sim para inteligência e mordacidade. Na trama, Amanda e o ex-marido Elyot se reencontram na noite de núpcias —com novos esposos.

    Lenise Pinheiro/Folhapress
    Lavínia Pannunzio como Amanda, em 'Vidas Privadas'
    Lavínia Pannunzio como Amanda, em 'Vidas Privadas'

    Com o correr da peça, também José Roberto Jardim, o ex-marido, embarca no crescente duelo, que remete aos casais virulentos das comédias shakespearianas, como "Muito Barulho por Nada".

    Ou seja, muito "wit", perspicácia, e diálogos em que a mulher não aparece em grau abaixo, pelo contrário. O exemplo maior é o segundo ato, em que os dois vivem um instante de liberdade e paixão, a ponto de beirar a androginia, até que voltam a se atacar verbal e fisicamente.

    Nos diálogos, nos gestos e marcações, o resultado desvairado parece refletir um detalhamento da encenação de José Possi Neto, aproveitando cada deixa do texto.

    Com isso, o melhor da peça se concentra nas atuações, não só dos protagonistas, mas de Daniel Alvim e Maria Helena Chira, seus novos esposos. É o ritmo veloz conseguido em conjunto pelo elenco que dá vida a Coward.

    Fica flagrante que ele está questionando padrões de costumes vigentes até hoje. Expõe a hipocrisia e o autoengano, que pouco ou nada mudaram desde 1930.

    A percepção é de um humor muito diverso de Joe Orton em "O que o Mordomo Viu", encenada por Miguel Falabella, ou de "Os 39 Degraus", por Alexandre Reinecke, que abraçam farsa e paródia, uma comédia mais popular.

    O maior problema aparece na cenografia e nos objetos, que não têm a precisão que a produção consegue noutras frentes, inclusive no figurino sensual de Fábio Namatame. Sem luxo nem praticidade, transmitem até fragilidade e insegurança. (NELSON DE SÁ)

    VIDAS PRIVADAS
    QUANDO sex.,às 21h30, sáb., às 21h, e dom., às 19h; até 3/8
    ONDE Novotel Jaraguá, r. Martins Fontes, 71, tel. (11) 3255-4380
    QUANTO R$ 50 (sex. e dom.) e R$ 60 (sáb.)
    CLASSIFICAÇÃO 14 anos
    AVALIAÇÃO bom

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