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    Obra vasta de Simenon começa a ser reeditada agora no Brasil

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    29/05/2014 02h23

    O comissário Jules Maigret está mais alerta do que nunca. Célebre personagem criado pelo escritor belga Georges Simenon no começo dos anos 1930, ele combate o crime em duas frentes no Brasil.

    A Companhia das Letras deu início neste mês ao projeto de reeditar a obra completa de Simenon (1903-1989). O lançamento será festejado na noite desta quinta (dia 29), em um debate que reunirá o filho do escritor, John, e dois nomes de destaque da ficção policial brasileira: o titã Tony Bellotto e Raphael Montes.

    Fora isso, Maigret continua batendo ponto na editora L&PM, que detém os direitos sobre algumas aventuras do personagem até 2016.

    A invasão de Simenon nas livrarias é motivo de festa para todo fã de literatura policial, mas quem pretende colecionar em sua biblioteca todos os livros do autor precisará ter paciência. A Companhia levará não menos que 30 anos para publicar tudo.

    Simenon era um dos gatilhos mais rápidos da literatura. Escreveu por volta de 400 livros, entre romances psicológicos, policiais, textos autobiográficos e diários.

    E, mais impressionante ainda, muitos de alta qualidade literária, o que lhe valeu fãs como o cineasta Jean Renoir e o escritor T.S. Eliot.

    "Meu pai tinha não só um talento incrível, mas também uma energia e uma força de vontade imensas", diz John.

    Livro
    Pietr, o Letão
    Georges Simenon
    Pietr, o Letão
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    A Companhia iniciou sua série com três títulos: "Pietr, o Letão", "O Cavalariço da Providence" e "O Enforcado de Saint-Pholien", todos de 1931. Embora seja difícil determinar com exatidão, dado o volume imenso de livros, "Pietr" é considerado o primeiro romance com Maigret.

    Foi um livro emblemático, para seu autor e a literatura em geral. Aos 28 anos, Simenon assinou pela primeira vez uma obra com seu próprio nome (antes, com vários pseudônimos, escreveu "apenas" 277 livros). Foi o início de sua produção madura.

    Para a literatura policial, marcou um surgimento de um novo tipo de herói.

    Maigret não é um "gênio", capaz de deduções mirabolantes e inesperadas, tal como Sherlock Holmes e Hercule Poirot. Tampouco faz o estilo "tira durão" e violento típico da ficção americana.

    Jules Maigret surge com 45 anos. É casado, instintivo, corpulento, compreensivo, fumante de cachimbo, calado, de ar geralmente enfastiado. Muito mais humano que seus ilustres colegas de ficção.

    Em muitos aspectos, criador e criatura se parecem. "Maigret elucida da mesma forma que Simenon escreve. Um e outro têm, em geral, mais simpatia pelo culpado que pela vítima. Na investigação propriamente dita como no escrever que a engendrou, a atmosfera, o meio e os personagens contam mais que o enredo, os indícios, o suspense", definiu Pierre Assouline, biógrafo de Simenon.

    Mas as diferenças entre eles também eram vastas. "Para mim, Maigret era um tio, alguém sereno, calmo, realmente tranquilo. Nisso, não podia ser mais diferente de meu pai", diz John, 64.

    Também os separava o apetite sexual. Maigret sempre foi extremamente casto. Consta que, nas mais de cem histórias que protagonizou, só pulou a cerca uma vez, apenas para arrancar uma informação de uma prostituta.

    Já Simenon afirmava ter levado para cama umas 10 mil mulheres. Chegou a viver com três sob o mesmo teto, sua mulher e duas amantes, em relativa paz.

    Está aí um mistério que talvez nem mesmo Maigret pudesse alcançar.

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