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    'Terceirizar ideias é fugir do debate', diz professor de Harvard

    IARA BIDERMAN
    DE SÃO PAULO

    30/05/2014 02h30

    O professor de filosofia política Michael Sandel, 61, tem um jeito próprio de apresentar palestras.

    Em vez de expor suas ideias e depois responder às perguntas da audiência, é ele quem lança as questões ao público, fazendo os espectadores raciocinarem sobre diferentes pontos de vista de uma questão filosófica.

    Foi essa a fórmula que o professor da Universidade Harvard (EUA) usou na quarta (28) no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, no teatro Complexo Ohtake Cultural, em São Paulo.

    O objetivo era fazer os cerca de 600 presentes refletirem sobre "princípios éticos e valores que nos levam a grandes perguntas da filosofia". A palestra durou duas horas.

    Avener Prado/Folhapress
    Michael Sandel durante palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento
    Michael Sandel durante palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento

    No evento, que tem promoção da Folha, Sandel disse que "a recusa em se envolver nas questões morais e éticas está levando ao esvaziamento das sociedades democráticas".

    Em suas palestras e em seu novo livro, "O que o Dinheiro Não Compra" (ed. Civilização Brasileira), ele incentiva a reflexão sobre esses temas a partir de exemplos do dia a dia, como furar uma fila ou pagar para pegar mais tarde o filho na escola.

    Livro
    O Que o Dinheiro Não Compra
    Michael J. Sandel
    O Que o Dinheiro Não Compra
    Comprar

    Sandel sustenta que a lógica do mercado, ao invadir todos os campos da vida política, social e pessoal, está corrompendo valores dos quais muitos não querem abrir mão, mas o fazem sem se dar conta disso.

    Para ele, é insuficiente apontar problemas gerais, como a corrupção, e culpar um sistema abstrato por ele. "Terceirizar ideias é fugir do debate", disse Sandel na palestra em São Paulo.

    FALSO PLURALISMO

    A alternativa sugerida pelo professor é exigir o debate público de questões éticas e se envolver na discussão.

    "Precisamos cultivar a arte de ouvir uns aos outros. Não porque chegaremos a um acordo, mas para raciocinarmos sobre a vida que desejamos e aprendermos hábitos que levam a isso."

    Na avaliação dele, as democracias vivem um falso pluralismo, em que todos podem expor ideias, "em geral aos gritos", mas ninguém escuta argumentos de posições opostas às suas: "Respeito não é concordar em discordar, mas levar a sério conceitos morais e espirituais diferentes dos nossos".

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