O professor de filosofia política Michael Sandel, 61, tem um jeito próprio de apresentar palestras.
Em vez de expor suas ideias e depois responder às perguntas da audiência, é ele quem lança as questões ao público, fazendo os espectadores raciocinarem sobre diferentes pontos de vista de uma questão filosófica.
Foi essa a fórmula que o professor da Universidade Harvard (EUA) usou na quarta (28) no ciclo de conferências Fronteiras do Pensamento, no teatro Complexo Ohtake Cultural, em São Paulo.
O objetivo era fazer os cerca de 600 presentes refletirem sobre "princípios éticos e valores que nos levam a grandes perguntas da filosofia". A palestra durou duas horas.
Avener Prado/Folhapress | ||
Michael Sandel durante palestra no ciclo Fronteiras do Pensamento |
No evento, que tem promoção da Folha, Sandel disse que "a recusa em se envolver nas questões morais e éticas está levando ao esvaziamento das sociedades democráticas".
Em suas palestras e em seu novo livro, "O que o Dinheiro Não Compra" (ed. Civilização Brasileira), ele incentiva a reflexão sobre esses temas a partir de exemplos do dia a dia, como furar uma fila ou pagar para pegar mais tarde o filho na escola.
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O Que o Dinheiro Não Compra |
Michael J. Sandel |
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Sandel sustenta que a lógica do mercado, ao invadir todos os campos da vida política, social e pessoal, está corrompendo valores dos quais muitos não querem abrir mão, mas o fazem sem se dar conta disso.
Para ele, é insuficiente apontar problemas gerais, como a corrupção, e culpar um sistema abstrato por ele. "Terceirizar ideias é fugir do debate", disse Sandel na palestra em São Paulo.
FALSO PLURALISMO
A alternativa sugerida pelo professor é exigir o debate público de questões éticas e se envolver na discussão.
"Precisamos cultivar a arte de ouvir uns aos outros. Não porque chegaremos a um acordo, mas para raciocinarmos sobre a vida que desejamos e aprendermos hábitos que levam a isso."
Na avaliação dele, as democracias vivem um falso pluralismo, em que todos podem expor ideias, "em geral aos gritos", mas ninguém escuta argumentos de posições opostas às suas: "Respeito não é concordar em discordar, mas levar a sério conceitos morais e espirituais diferentes dos nossos".