Doados por Francis Bacon a seu último namorado, Cristiano Lovatelli Ravarino, em 1988, os desenhos italianos do artista têm sua autenticidade questionada até hoje.

Numa carta, Bacon dizia deixar o conjunto de obras a Lovatelli Ravarino por gratidão a ele e à cultura italiana e afirmava que fora "roubado e chantageado" toda a vida por sua galeria, a Marlborough, em Londres, que não se manifesta sobre o caso.

Depois da morte do artista, o Estate of Francis Bacon, fundação responsável por seu espólio, tampouco reconheceu a autenticidade das peças, que já foram expostas em Londres, Paris, e Berlim.

Em nota enviada à Folha, representantes do espólio afirmam que o artista "viajou pouco à Itália e não se tem conhecimento sobre desenhos que ele tenha feito no país".

Lovatelli Ravarino chegou a ser acusado de forjar as obras, mas uma decisão judicial de 2004 o absolveu das acusações e determinou que, de fato, ele e Bacon tiveram um relacionamento e que as obras doadas a ele pelo artista eram mesmo verdadeiras.

Foi um processo que se arrastou por mais de dez anos, com análises minuciosas das assinaturas nos desenhos.

"Um dos maiores grafólogos da Europa examinou a caligrafia e testemunhas que o viram desenhando foram chamadas a dar depoimentos", conta Serena Baccaglini, curadora da mostra que virá a São Paulo em julho.

Mesmo assim, as obras não foram incluídas na relação oficial de trabalhos do pintor, a cargo de seu espólio.

"Nada faz pensar que esses desenhos sejam falsos", diz Lovatelli Ravarino. "Essa é uma briga por dinheiro. É uma questão de reserva de mercado, já que o espólio quer ter domínio total sobre as obras que Bacon deixou."

Um ponto a favor desse argumento é o fato de críticos de peso da obra de Bacon já terem reconhecido nos desenhos vestígios "inquestionáveis" dos traços do artista.