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    Romance de Alberto Mussa investiga primeiro assassinato do Rio

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    14/06/2014 02h31

    "A Primeira História do Mundo" é uma espécie rara de livro policial. Narra um assassinato ocorrido há mais de 400 anos, ao qual só temos acesso via documentos vagos e inconclusivos.

    Não possui o tradicional personagem do "detetive", fundamental nesse tipo de romance. Por vezes, é difícil distinguir a ficção da realidade.

    O escritor Alberto Mussa topou com o caso ao ler o livro "Conquistadores e Povoadores do Rio de Janeiro", dicionário biográfico sobre o século 16 publicado por Elysio Belchior em 1965.

    O livro traz algumas transcrições do processo deste que é considerado o primeiro assassinato da história do Rio.

    Paula Johas/Divulgação
    O escritor Alberto Mussa, autor de 'A Primeira História do Mundo
    O escritor Alberto Mussa, autor de 'A Primeira História do Mundo'

    Em 1567, dois anos após a fundação da cidade, o corpo do serralheiro Francisco da Costa é encontrado com sete flechas cravadas nas costas (um ferimento nos rins indicava a existência de uma oitava flecha, mas isso nunca ficou muito claro nos autos).

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    A Primeira Historia Do Mundo
    Alberto Mussa
    A Primeira Historia Do Mundo
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    Fora isso, os documentos informam apenas que dez homem foram relacionados ao crime e que a vítima era casada com a mameluca Jerônima Rodrigues.

    Intrigado pelos mistérios do caso e fascinado pelo nome da viúva, Mussa resolveu fazer do caso o tema de seu novo livro.

    "A Primeira História do Mundo" é o terceiro trabalho do projeto de Mussa de recontar a história do Rio por meio de cinco romances policiais, um para cada século da história carioca.

    "O projeto reúne coisas das quais gosto muito. Eu tenho necessidade de me afastar do presente, não consigo criar uma voz coerente que esteja muito próxima de mim. E também gosto muito do lado cerebral das histórias policiais", explica Mussa.

    CRIME E CASTIGO

    A série começou em 1999, com "O Trono da Rainha Jinga", com ação principal em 1629, e prosseguiu com "O Senhor do Lado Esquerdo" (2011), que acontece em 1913.

    "Você pode analisar toda a história de uma sociedade por meio da ficha criminal dela. O crime é muito representativo das tensões sociais, do que uma sociedade reprime e do que ela admite", diz o autor.

    No caso de "A Primeira História do Mundo", Mussa faz um delicioso retrato dos primeiros anos de colonização do Brasil. A variada fauna de personagens inclui escravos, fidalgos, índios, piratas, bandeirantes, feiticeiros.

    Como pano de fundo, o escritor evoca, e em grande parte recria, diversos mitos indígenas. O mais impressionante deles trata das amazonas, mulheres guerreiras, pervertidas e sem marido que viviam isoladas. Aceitavam o convívio com os homens apenas para a procriação.

    A mitologia, por sinal, é outra constante de Mussa. "Não tenho talento para trabalhar a psicologia do personagem, esse olhar interior. Prefiro partir de uma base mitológica que ofereça uma visão geral sobre a condição humana. Um personagem que representa todos os personagens."

    Uma vez que a misteriosa morte do serralheiro nunca teve um desfecho realmente elucidativo, Mussa permitiu-se propor uma solução fascinante para o caso.

    "Eu fiquei em dúvida em muitas coisas. Fui consultar especialistas. Acabei sendo um pouco detetive também."

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