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    Análise: Bienal pode ficar mais perto do documental do que do artístico

    NELSON AGUILAR
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    16/06/2014 02h02

    Os artistas peruanos Giuseppe Campuzano e Sergio Zevallos usam a questão transexual como eixo. A brasileira Virgínia de Medeiros envereda pelo mesmo caminho.

    Os três defendem suas escolhas com raciocínios bem articulados, e o nome do filósofo francês Gilles Deleuze aflora algumas vezes. Mas, com essas opções, a Bienal aproxima-se perigosamente do registro mais documental em detrimento do artístico.

    Que a transgressão seja o ponto de partida para a criação, a arte atesta. Deleuze (1925-1995) vale-se do pintor Francis Bacon como paradigma daquele que inventa o mundo da hibridez sem sacrificar a forma pela imagem, o estilo pela ilustração.

    Entretanto, há nessas escolhas o perigo do didatismo: ao tematizar a Bienal, pode-se fortalecer a comunicação, mas com o sacrifício da própria expressão artística.

    Minha única ressalva é esta: a mostra pode se tornar algo que se sabe de antemão, didática, quando arte é coisa em aberto. Ela não alveja.

    Há também o risco de a próxima Bienal ficar um pouco "trendy", dentro da linha que está ocorrendo, alinhada com certo tipo de manifestação cultural.

    Desatar o nó entre arte e reivindicação será a tarefa da curadoria. Vamos esperar a repercussão.

    NELSON AGUILAR, professor da Unicamp, foi curador da Bienal de São Paulo nos anos de 1994 e 1996

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