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    Opositor de Putin, Vladímir Sorókin é primeiro russo da Flip

    IRINEU FRANCO PERPETUO
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    21/06/2014 02h27

    O primeiro escritor russo a ir à Flip é uma figura bastante controversa em seu país —e não apenas devido às posições políticas. Veemente opositor de Putin, Vladímir Sorókin, 58, adota sofisticados procedimentos linguísticos, narrativos e literários para abordar do canibalismo ao incesto.

    Sorókin emergiu na cena russa dividido entre literatura e artes plásticas, entre os criadores não conformistas do final da era soviética —anos 1970 e 1980. Formado em engenharia mecânica, foi traduzido em 20 idiomas.

    Em 2011, a editora 34 já escolhera seu "Um Mês em Dachau" para concluir a "Nova Antologia do Conto Russo". Agora, lança "Dostoiévski-Trip" (1997), uma das 12 peças de Sorókin, que retrata os devaneios de sete pessoas ao consumirem uma droga altamente viciante: a literatura.

    Jennifer S. Altman/The New York Times
    Vladímir Sorókin, escritor russo, no parque High Line, em Nova York
    Vladímir Sorókin, escritor russo, no parque High Line, em Nova York

    "Essa peça é muito representativa da minha relação com a literatura: um narcótico necessário a autor e leitores", diz à Folha, por e-mail.

    "Ela não apenas nos impede de morrer devido à rotina como nos torna mais sábios."

    Ao final da peça, um químico constata que "Dostoiévski em estado puro é mortal" e que talvez seja necessário dilui-lo com Stephen King.

    Sorókin reconhece a importância do autor de "Crime e Castigo", embora considere seu estilo "confuso e destituído de pureza". "Pela leitura, prefiro Tolstói e Turguêniev; pelas ideias, Dostoiévski."

    "Os clássicos russos estão sempre comigo", afirma o autor, comparando-os ao ar que respira. "No meu escritório, ficam atrás de mim. É gostoso escrever e, depois, inclinar-se na poltrona e se apoiar em Tolstói e Dostoiévski."

    Se tivesse que escolher livros seus para serem lançados no Brasil, optaria pela novela "Nevasca", de 2010 ("sobre a metafísica do insuperável espaço russo"), e pelo romance "Telúria", de 2013 ("sobre os novos medos da Europa").

    Confessando ignorar tudo a respeito do Brasil ("bom que existem continentes desconhecidos para mim"), Sorókin é loquaz ao abordar a situação da Rússia. "Há uma febre neoimperialista. É uma doença perigosa, sobretudo para um país tão enfraquecido economicamente", afirma.

    Quanto à Crimeia, península ucraniana anexada pela Rússia, diz: "Pode se tornar aquele tipo de prato que nosso país não consegue digerir. Refiro-me às consequências dessa aventura. Pois todo o mundo civilizado a condenou. Russos e ucranianos eram povos irmãos. Isso me parece um pesadelo".

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