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    Crítica: Homem e lenda se misturam em John Wayne

    RODOLFO LUCENA
    DE SÃO PAULO

    23/06/2014 03h08

    Marlene Dietrich foi a melhor transa da vida de John Wayne. Os dois se embolaram nas escadarias do hotel Excelsior, em Roma. Nem se preocuparam em chegar ao quarto.

    O Anjo Azul germânico não escondeu, durante um período, seu entusiasmo pelo cowboy norte-americano. Na primeira vez em que viu Wayne, espigado em seu mais de 1,90 m nos estúdios da Universal, Dietrich encostou no diretor Tay Garnett e pediu: "Papai, compra aquilo para mim".

    Warner Bros - 1956/Reuters
    John Wayne em 'Rastros de Ódio', faroeste de 1956 dirigido por John Ford
    John Wayne em 'Rastros de Ódio', faroeste de 1956 dirigido por John Ford

    As inconfidências estão registradas na mais recente biografia do maior ator de faroeste da história, "John Wayne: The Life and Legend". Especialista em relatos da trajetória de artistas e diretores da chamada Era Dourada de Hollywood, Scott Eyman, 63, de fato cumpre o que promete no título.

    Mesmo sem esconder seu entusiasmo pela figura, o autor tenta retratar com rigor o homem e a lenda. Mas a cansar a quantidade de depoimentos elogiosos, enumerando as qualidades artísticas e humanitárias de Wayne.

    Nem por isso deixam de surgir aspectos mais delicados, a começar pelos conflitos que o ator teve, na infância, com o próprio nome, Marion Robert Morrison.

    "Por que você tem nome de menina", brincavam os coleguinhas de escola do garoto.

    Aos nove anos, encheu-se daquilo e passou a se chamar "Duke" Morrison, tomando emprestado o nome do cachorro da família. A mudança para John Wayne ocorreu durante as filmagens do primeiro filme que estrelou -"A Grande Jornada", de 1930.

    Quase dez anos depois faria "No Tempo das Diligências", considerado um dos mais importantes westerns de todos os tempos. Foi dirigido por John Ford, com quem Wayne teve uma longa e complicada relação -sendo humilhado não poucas vezes.

    Não que Wayne, na vida real, fosse um sujeito pacato. Racista, machista e reacionário, chegou a ser presidente da Motion Picture Alliance for Preservation of American Ideals, uma das lideranças na sanha anticomunista do período da Guerra Fria.

    Wayne também militou na ainda mais feroz Sociedade John Birch. E jamais escondeu suas opiniões, como o livro escancara. Nacionalista ao extremo, não chegou a servir na Segunda Guerra, o que sempre considerou uma mancha em sua vida.

    Eyman também mostra a atribulada vida doméstica de Wayne, seus investimentos desastrados e constante busca por segurança financeira.

    Ao longo de dolorosas páginas, fala de seu combate contra o câncer, "a bruxa vermelha". Mais do que qualquer palavra, a foto do cowboy perto da morte (em 1979, aos 72 anos), ilustra o quanto a doença deteriorou seu corpo, que era sua vida.

    JOHN WAYNE: THE LIFE AND LEGEND
    AUTOR Scott Eyman
    EDITORA Simon & Schuster
    QUANTO cerca de R$ 45 na Amazon (672 págs.)
    AVALIAÇÃO ótimo

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