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    Peça celebra Foucault com histórias de vidas infames

    GIULIANA VALLONE
    DE SÃO PAULO

    25/06/2014 02h06

    Em "A Vida dos Homens Infames" (1977), o francês Michel Foucault (1926-84) falava de gente ao mesmo tempo "obscura e desafortunada".

    De existências assim trata a peça homônima que estreia no dia 4 de julho, em São Paulo. Foi criada a partir de duas biografias, uma sobre um assassino, outra sobre uma hermafrodita, publicadas pelo filósofo, cuja morte completa 30 anos nesta quarta (25).

    Henrique Zanoni e Marcela Vieira juntaram os textos de "Eu, Pierre Rivière, que Degolei Minha Mãe, Minha Irmã e Meu Irmão" (1977) e "Herculine Barbin, Diário de uma Hermafrodita" (1979) para colocar em cena uma peça sem o conteúdo acadêmico do filósofo.

    Os dois livros são quase que inteiramente compostos pelos diários pessoais de Herculine, uma hermafrodita forçada a viver como homem que termina por suicidar-se, e de Pierre Rivière, que matou os familiares por "ordem divina".

    Felix Nadar/Divulgação
    Foto de Felix Nadar em série sobre hermafroditas feita em 1860 e usada na divulgação da peça
    Foto de Felix Nadar em série sobre hermafroditas feita em 1860 e usada na divulgação da peça

    Nos trechos usados no espetáculo não há interferência de teorias. "Para a dramaturgia, nos impusemos algumas regras: só usamos textos dos diários ou de dossiês médicos e jurídicos. O trabalho foi extrair os trechos e construir a curva dramática da peça, mas não escrevemos nada", diz Zanoni, que faz o protagonista, ao lado de Adriana Guerra.

    Os dois também se revezam como médicos, juízes, padres e jornalistas que analisaram e julgaram as histórias.

    O espetáculo, da Companhia dos Infames, traz o cineasta Cristiano Burlan (de "Mataram Meu Irmão", 2013) de volta à direção teatral após 14 anos afastado.

    PARCERIA

    "Foucault aplica o termo 'infame' muito bem: são pessoas que lutam contra o poder, mas não para assumir seu lugar", diz Burlan. "Ele também era um infame. Era uma bicha louca sadomasoquista. E eu me sinto um pouco infame também."

    A parceria de Burlan e Zanoni é antiga. Os dois são sócios na produtora Bela Filmes e o ator já protagonizou três longas do diretor: "Sinfonia de um Homem Só" (2012) "Amador" (2013) e "Hamlet" (2014), este último inédito.

    "Essa coisa da infâmia tem muito a ver com o que fazemos juntos, com o nosso encontro", afirma Zanoni.

    A peça faz parte do projeto "Foucault 30 anos: Um Infame Encontra o Teatro", que também terá ciclos de debate. O resultado dessas conversas deve virar livro.

    A VIDA DOS HOMENS INFAMES
    QUANDO sex. e sáb. às 21h30 e domingo às 19h30 (de 4/7 a 17/8)
    ONDE teatro Pequeno Ato, r. Dr. Teodoro Baima, 78, tel. (11) 99642-8350
    QUANTO R$ 40
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos

    CICLO DE DEBATES NO TEATRO PEQUENO ATO

    19. jul - Foucault, Filosofia e Teatro
    Daniel Pereira (sociólogo) e Ruy Filho (crítico)

    26. jul - Dramaturgia e Escrita Infame
    Fábio Zanoni (filósofo) e Samir Yazbek (dramaturgo)

    2. ago - A Experiência do Teatro
    Ana Goldman, Érika Inforsato (Cia Ueinzz) e Maria Eugênia de Menezes (crítica)

    9. ago - Subjetividade e Técnicas Psi no Teatro
    Luiz Fuganti (filósofo) e Roberto Alvim (dramaturgo)

    16. ago - O que é um ator?
    Salma Tannus (filósofa) e Companhia dos Infames

    Os debates ocorrerão das 17h às 19h

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