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    Pós-hipsters adotam estética da década de 1990

    GIULIANA VALLONE
    SILAS MARTÍ
    DE SÃO PAULO

    27/06/2014 02h00

    "No auge do hipsterismo, você ainda é jovem, ganha mal e se joga em baladas todos os dias", diz o publicitário americano Brad Getty. "Está descobrindo a vida."

    Mas Getty, fundador do site Dads Are the Original Hipsters, que posta imagens de jovens papais dos anos 1980 muito semelhantes aos modernos de hoje, já se diz um "hipster aposentado".

    Isso porque, aos 29, ganha bem e, segundo explica, abandonou o brechó como fonte exclusiva de seus looks. Na mesma pegada, os anos 1980 deixaram de ser referência para o jovem, que adota os contornos dos anos 1990.

    "Quem viveu os anos 1980 quer ficar longe daquilo, porque tudo era horroroso, medonho", diz a consultora de moda Biti Averbach. "Vai mudar a sintonia do hipster. Ele vai ganhar nuances da cultura digital, mais uma estética dos anos 1990, com um visual 'grunge espacial'."

    O fim das referências oitentistas em favor da falta de glamour dos anos 1990, década em que moletons e tênis de corrida dominaram os looks, também reflete a dissolução do hipsterismo diante de uma nova tendência, oposta.

    Agora, em vez de buscar o que é original a qualquer custo, o bom é fugir do que é exclusivo e parecer "normal", o chamado "normcore" no glossário fashionista.

    "Todo mundo pode ser hipster com um cartão de crédito", ironiza André Oliveira, da Box1824. "O culto tão extremo à autenticidade se torna aprisionador. No lugar disso, a gente agora vê mais uma celebração da semelhança."

    A estética dos editoriais de moda também já segue esse desejo de normalidade, após o declínio das imagens hiper-sexualizadas que estamparam anúncios da onda hipster criadas por gente como o fotógrafo americano Terry Richardson (às voltas com acusações de abuso sexual) ou o alemão Juergen Teller.

    Se o visual hipster celebra a exclusividade e segrega o diferente, a onda "normcore" sonha com a igualdade.

    "O rumo agora é ser menos rebuscado, estar à vontade no mundo e assumir suas belezas e defeitos", diz o crítico de fotografia Eder Chiodetto. "Vamos conviver com a ideia de tolerar o outro."

    CIGANOS URBANOS

    Nesse ponto, os hipsters de outrora vêm abraçando o "normcore", ou desdobramentos dele, como os "gypsies", ou ciganos, espécie de modernos nômades que vivem entre uma e outra metrópole ou exaltam ausência de raízes numa mesma cidade.

    Tem a ver com uma das definições para hipsterismo, termo surgido nos anos 1940 para designar brancos endinheirados amantes do jazz negro. Depois, a expressão colou nos beatniks e nos hippies e já foi identificada como a busca de uma vida divorciada da sociedade.

    Desde que a especulação imobiliária sepultou a vida noturna mais hipster da rua Augusta, uma onda de festas "tolerantes" vem surgindo no centro da cidade. São baladas sem área VIP ou lista na porta, em praças e túneis.

    "A cultura hipster segregava as pessoas, foi aí que isso virou algo pejorativo", diz André Pollak, criador da festa de música eletrônica U-Bahn, numa praça no entroncamento das avenidas Rebouças e Paulista. "As pessoas estão saindo da prisão."

    Essa fuga traz tecidos mais leves e floridos para as a mulheres e um look meio "pirata do Caribe" para os homens.

    "É uma vida desapegada de coisas materiais, livre de vícios", diz Andrea Bisker, da consultoria de tendências WGSN. Daniela Bernauer, do mesmo escritório, enxerga o fenômeno como resultado da saturação da estética hipster.

    Mas Dario Caldas, do birô Observatório de Sinais, nega o fim do hipsterismo. Para ele, a crise tem a ver com o nome.

    "As pessoas estão menos afeitas a rótulos em geral. É como dizer que essa história acabou porque não querem ser rotulados como hipsters", afirma o sociólogo.

    "Uma vez que essa estética é disseminada, imediatamente a onda passa a ser outra", diz a estilista Mariana Rocha, professora de moda da Faculdade Santa Marcelina.

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