O norueguês Karl Ove Knausgård, autor da série autobiográfica "Minha Luta" prepara para setembro um livro sobre a Copa, ainda sem título. Ele escreve do ponto de vista de quem a está acompanhando de longe, pela TV, enquanto troca cartas com um amigo que está no Brasil.
Sem revelar para que time está torcendo —"Não posso falar isso para uma brasileira!"—, diz que esse é o Mundial dos sul-americanos e brinca: "Acho que vocês devem tomar cuidado com o Chile", contra quem o Brasil joga neste sábado (28).
O livro marca o retorno de Knausgård à escrita após o sucesso de "Minha Luta". Só em seu país de origem, a autobiografia em seis volumes vendeu 500 mil exemplares.
Ao terminar a série, seu plano era se afastar da profissão. "Eu me escondia na literatura e queria mergulhar na vida, deixar de ser um autor", afirma. "E eu o fiz. Mas isso não é mais verdade hoje. Não consigo imaginar uma vida sem escrita. É impossível."
| Alejandro García/Efe | ||
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| O escritor norueguês Karl Ove Knausgård |
Elogiado pela crítica, o projeto revê a vida do autor desde a infância, tratando de eventos corriqueiros como uma festa na adolescência a inquietações e problemáticas relações familiares.
| Livro |
| Um Outro Amor |
| Karl Ove Knausgård |
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No primeiro volume, "A Morte do Pai", o foco era seu duro relacionamento com o pai. No livro seguinte, "Um Outro Amor", lançado agora no Brasil, ele descreve o conturbado início de seu segundo casamento e as dificuldades da vida familiar com o nascimento dos filhos.
A trama dá vários saltos no tempo, relatando com minúcias eventos como um jantar com um amigo, que se estende por dezenas de páginas.
Antes de expor os segredos familiares ao público, o autor enviou seus manuscritos a todos os personagens citados. Ele conta que a mulher, Linda, cujo colapso nervoso não ficou de fora da obra, nunca evitou que ele publicasse o texto. "Ela então pediu para que conversássemos sobre nossa vida. Falamos sobre nós, não sobre meu livro."
CRISE
A autobiografia, com um toque de ficção —"É impossível lembrar de todos os detalhes e situações"—, reconhece, foi escrita em um momento de crise dele com a profissão.
"Passei quatro anos tentando escrever meu terceiro romance e falhei. E então comecei a escrever sobre mim. Estava tão desesperado que pensei: 'OK, vou transformar minha vida numa ficção'", ri.
Revelar tanto sobre si mesmo não foi, segundo ele, uma preocupação naquele momento. "Só percebi o quão assustador isso era quando já tinha publicado e tudo mudou. As pessoas passaram a se interessar por mim."
A repercussão do primeiro livro fez com que ele fosse mais contido nos volumes três, quatro e cinco. Na sexta parte, porém, voltou ao estilo antigo. "Quis ter de novo aquela insensibilidade, aquela honestidade brutal."
O título inicial do projeto era "Argentina", país que, para o escritor, simbolizava um lugar ao qual ele desejava ir e nunca chegaria. Trocou o nome pelo polêmico "Minha Luta", título de obra do ditador nazista Adolf Hitler.
"Meu livro é o oposto do dele. Meu texto é sobre fracasso, falhas de comunicação e erros", diz. "O título é também uma forma de dizer ao leitor que eu não ligava para ele."
Knausgård diz que procura seu nome no Google "pelo menos dez vezes por dia". Mas não lê nada do que encontra a seu respeito. "Tenho uma tendência ao narcisismo e isso é um paraíso para mim. Então tento me manter afastado. Mas é difícil."
UM OUTRO AMOR
AUTOR Karl Ove Knausgård
TRADUÇÃO Guilherme Braga
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 59,50