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    Moda de Angola é exemplo para o Brasil, diz consultor

    PEDRO DINIZ
    COLUNISTA DA FOLHA

    08/07/2014 02h35

    Se foi da África que o Brasil herdou as estampas e o processo artesanal de manufatura aplicado em suas roupas e acessórios, é no mesmo continente que o país deveria se espelhar para construir uma identidade de moda livre dos rumos estéticos dos Estados Unidos e da Europa.

    É essa a opinião de Jackson Araújo, que com a Cia. Paulista de Moda, assina a direção da Angola Fashion Week. A edição de verão 2015 do maior evento de moda da África terminou na semana passada, em Luanda, com a participação de profissionais de moda brasileiros.

    Dudu Bertholini, da grife Neon, e a estilista Karlla Girotto foram escalados para temperar os desfiles, que reúnem os ateliês mais importantes do continente.

    Enquanto Bertholini apresentou a coleção de sua grife, Girotto prestou consultoria de imagem para as marcas participantes.

    "Percebemos nessa viagem o quanto nós erramos aqui no Brasil com nossos eventos de moda, que não valorizam a identidade local e não fazem roupas condizentes com o corpo da mulher nacional", diz Araújo. Além de prestar consultoria, ele assinou a trilha sonora do evento.

    O apreço dos estilistas africanos pela beleza negra —quase todos os modelos são afrodescendentes— e a valorização das curvas femininas deveriam, segundo Araújo, servir de exemplo para a moda brasileira.

    "Aqui no Brasil há um movimento de mudar o estilo nacional com construções baseadas no que outros países produzem", diz ele.

    "A África sai na frente por mostrar o novo luxo da moda, que é o artesanal, aplicado em roupas feitas no continente. Ninguém ali quer copiar os estilistas belgas e japoneses, como muitas das marcas brasileiras fazem."

    FESTA ÉTNICA

    Essa valorização da cultura local foi mostrada na passarela montada no Centro Cultural Paz-Flor, onde ocorreram os desfiles, em apresentações como a de Nadir Tati, Zamia e Antonieta Almeida, nomes importantes da moda africana.

    Tati é considerada a principal estilista de lá e é uma das preferidas da primeira-dama angolana, Ana Paula Santos. Sua moda-festa se traduz em vestidos longos estampados com fendas e cintura marcada, construídos com tecidos desenvolvidos em tecelagens locais.

    A mesma relação entre corpo, cores e manufatura artesanal serviu de mote para Zamia criar vestidos curtos
    de aparência plastificada. O tecido plástico, uma tendência apresentada na temporada internacional europeia, ganhou personalidade étnica nas mãos da estilista.

    "As maiores marcas brasileiras estão desesperadas para vender fora do país e se esquecem de desenvolver a cultura de moda local. Quem aqui cria para o Acre, por exemplo?", questiona Araújo, entusiasta da moda latina.

    Ele alerta: "Se não olharmos de dentro para fora, corremos o risco de pasteurizar a nossa costura".

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