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    Crítica: 'O Rebu' peca por excesso de personagens, mas promete

    LUCIANA COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    16/07/2014 02h02

    "O Rebu", releitura de uma novela de 1974 que a Globo estreou na noite de segunda (14), pode ser um banquete para fãs de séries americanas dispostos a reconsiderar a dramaturgia nacional.

    Não que a produção enxuta (36 capítulos) dirigida por José Luiz Villamarim, o mesmo da bem-sucedida "Amores Roubados", chegue a se confundir com uma série.

    É, em essência, um folhetim bem ao gosto brasileiro: dramas de ricos, pobres simpáticos ou bandidos (pois é), montes de sexo e, à primeira vista, mais personagens do que seria sensato acompanhar em tão pouco tempo.

    Divulgação/TV Globo
    Sophie Charlotte vive a personagem Duda em 'O Rebu', coprotagonista da trama
    Sophie Charlotte vive a personagem Duda em 'O Rebu', coprotagonista da trama

    Mas a elegância da fotografia de Walter Carvalho e da direção de arte, somada à agilidade da edição e a uma trilha sonora das boas a aproximam da chamada "era de ouro da TV americana", ao menos na embalagem.

    Há, sim, tropeços. Porque a novela será exibida só quatro dias por semana e a nova leva de galãs globais é incrivelmente pasteurizada na aparência, a pergunta "mas quem é este mesmo?" deve incomodar o espectador que há anos trocou a TV aberta pela TV paga e agora se interessou de novo por novelas.

    Foi esse o maior desconforto no primeiro capítulo.

    São personagens demais, atores jovens demais e uma coprotagonista -Sophie Charlotte, como Duda- que é linda, mas não segura a onda (moda, porém, ela deve lançar: o cabelo curtinho, meio Bete Mendes na versão original e meio as personagens fofas da inglesa Carey Mulligan, é aposta para hit).

    As repetitivas cenas de casais se pegando, sem motivo maior, também cansam.

    Ainda assim, "O Rebu" tem trunfos além do apuro visual.

    O elenco veterano, com Tony Ramos, Vera Holtz, Cássia Kis Magro e José de Abreu é o que a Globo tem de melhor. Patrícia Pillar, sempre competente, ainda pareceu desconfortável como a milionária e solitária empresária do petróleo Angela Mahler, mas merece o voto de confiança.

    E Daniel de Oliveira, que é jovem mas tem longa folha corrida, pode fazer bonito nas cenas em flashback.

    É do seu personagem, aliás, o corpo que aparece boiando na piscina da mansão Mahler numa noite de festa e que desencadeia a trama -uma mudança crucial em relação ao enredo de Bráulio Pedroso (1931-90), no qual só se descobria a identidade da vítima no meio da novela.

    Revolucionário à época, por concentrar a ação em um só dia de festa, "O Rebu" original era um grande "whodunnit" (o subgênero derivado da pergunta "quem matou") temperado com acidez sobre a classe mais rica.
    Desta vez, porém, os ricos parecem um tanto insossos. Mais atraente é a cozinha do chef Pierre (Jean Pierre Noher) e sua trupe de cozinheiros egressos de um presídio.

    Para garantir o ritmo e o interesse do espectador mais exigente, é preciso ainda melhorar diálogos, cortar o excesso de cenas e, principalmente, apurar personagens.

    Mas o caminho vislumbrado na estreia é promissor.

    O REBU
    AVALIAÇÃO bom

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