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    Performances da mostra 'Verbo' testam público em São Paulo

    RAFAEL GREGORIO
    DE SÃO PAULO

    23/07/2014 02h29

    Sentado diante de pequena plateia, Mauricio Ianês usa nanquim e a própria língua para pintar termos como "Palestina" e "7 a 1" em folhas de papel que, em seguida, pendura na parede com fita adesiva. Já em "Metáfora", o ítalo-inglês Manuel Vason prende ao rosto uma câmera que dispara fotos da audiência conforme os movimentos de sua respiração.

    Ações como essas são as protagonistas da mostra "Verbo", dedicada à performance. Uma arte interdisciplinar, atrelada a instantes e locais, vinculada à presença ­-ou à ausência- do artista e do público e cujo registro depende de outros suportes, como fotografias ou pinturas.

    A exposição reúne desde 15 de julho obras de mais de 60 brasileiros e estrangeiros na galeria Vermelho, que será palco de 25 ações, algumas permanentes. Como "O Escritor", que Ianês repetirá às terças até o fim do evento, em 9 de agosto.

    "O modernismo rompeu com questões da arte clássica, mas manteve clara a separação das especificidades técnicas com grandes pintores e gravuristas. A partir dos anos 1960 os artistas começaram a inverter a questão", explica a coreógrafa Juliana Moraes. Isso causa "certa ansiedade", ela diz, "pois não é fácil abrirmos mão das classificações".

    "Não se define facilmente, falta lastro conceitual", explica Marcos Gallon, 48, um dos curadores da mostra e diretor-artístico da Vermelho. Desde a criação, em 2002, por Eduardo Brandão e Eliana Finkelstein, o local investe em exibir e vender performances. "Verbo", que nasceu em 2005, é a expressão maior dessa vocação.

    Em sua décima edição, o evento se beneficia de certa maturidade de artistas e público. Performances já não são tão chocantes, afinal, quanto em 1965. Naquele ano, o alemão Joseph Beuys fixou baliza ao vagar por uma galeria com o rosto coberto de mel e ouro, levando nos braços uma lebre morta a quem explicava as pinturas.

    "Até 30 anos atrás, falava-se em 'arte ambiental', algo pensado como arquitetura", reforça a mineira Jaqueline Martins, 38, da galeria homônima. Desde então, artistas como John Cage e grupos como o Fluxus tornaram mais acessíveis termos como "happening", "live art", "site specific" e intervenção.

    Também surgiram espaços, como a Live Art, em Londres, e eventos, dos quais se destacam a feira alemã Documenta e a bienal americana Performa. No Brasil, Flávio de Carvalho (1899-1973) e Nelson Leirner abriram um caminho depois pavimentado por instituições e cursos de graduação.

    "Percebo uma mudança na disposição das pessoas", diz Gallon. Isso talvez se credite à popularidade de nomes como Yoko Ono e Marina Abramovic, cujas ações são hits no Facebook. Estrela da performance, a sérvia Abramovic é uma provocadora ainda relevante, diz o curador. "Ela introduziu a discussão sobre reencenação quando fez os 'Seven Easy Pieces'", afirma, citando as exibições em 2005 no museu Guggenheim, em Nova York.

    REGISTRO É ARTE?

    Neste ano, a mostra mira a documentação. Nos seminários "Verbos Conjugados", que acontecem às quintas-feiras (às 20h), dez artistas, galeristas e acadêmicos buscarão responder questões como: registros de ações em imagens, projetos, partituras e objetos são obras de arte? Se sim, o autor é o performer ou o fotógrafo?

    Para o mercado, é essencial entender como e por que comercializar performances. Porém, enquanto não vinga um consenso, impera a ousadia na exploração dos limites da arte. "Documentar é um fetiche envolvente", pondera Jaqueline, "porque aspira à imortalidade". "A performance é um constante duelo entre o eterno e o efêmero."

    VERBO
    QUANDO de ter. a sex., das 10h às 19h, sáb. das 11h às 17h; até 9/8
    ONDE Galeria Vermelho, r. Minas Gerais, 350, tel. (11) 3138-1520
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre

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