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    Crítica: Iraniano cria alegoria confusa sobre repressão em 'Cortinas Fechadas'

    RICARDO CALIL
    CRÍTICO DA FOLHA

    24/07/2014 02h52

    Depois de "Isto Não É um Filme" (2011), o cineasta iraniano Jafar Panahi volta, em "Cortinas Fechadas", a se colocar diante da câmera em uma situação de enclausuramento para falar sobre censura e opressão política em seu país.

    Mas as abordagens e os resultados dos dois filmes têm diferenças essenciais —que vão muito além do fato de o primeiro poder ser mais facilmente identificado como documentário, e o segundo, como ficção.

    "Isto Não É um Filme" era uma obra de linhagem realista, ligada a uma situação concreta: Panahi registrava seu cotidiano em casa e seu projeto de um novo filme enquanto aguardava, em prisão domiciliar, o julgamento por fazer trabalhos supostamente contrários ao regime.

    Divulgação
    O diretor e ator Kambuzia Partovi como o protagonista de 'Cortinas Fechadas'
    O diretor e ator Kambuzia Partovi como o protagonista de 'Cortinas Fechadas'

    Já "Cortinas Fechadas" é uma alegoria política sobre o Irã. Filmada em segredo, se passa dentro da casa de praia de Panahi à beira do mar Cáspio, onde o cineasta encena uma situação ficcional.

    Um escritor (Kambuzia Partovi) se esconde ali com seu cachorro porque o governo decidiu que esses animais devem ser banidos, por serem seres impuros segundo a lei islâmica. Como indica o título, ele passa o tempo todo de cortinas fechadas, aterrorizado pela possibilidade de ser descoberto.

    Com relutância, o escritor dá abrigo a uma jovem em fuga e descobre que ela tem instintos suicidas. Em dado momento, surge em cena o próprio Panahi, no papel de si mesmo.

    A alegoria de "Cortinas Fechadas" é muito evidente, em seu paralelo com a situação política do Irã e no uso de personagens como símbolos do estado de espírito de Panahi.

    Mas, paradoxalmente, torna-se bastante confusa —mais do que complexa— a partir do momento em que a narrativa descamba para um surrealismo pouco inspirado.

    Ao final, fica claro que Panahi se sai melhor lidando com as coisas concretas do que com as metáforas. E que sua crise pessoal por conta da perseguição política virou impasse artístico.

    CORTINAS FECHADAS (PARDÉ)
    DIREÇÃO Jafar Panahi e Kambuzia Partovi
    PRODUÇÃO Irã, 2013
    ONDE Caixa Belas Artes
    CLASSIFICAÇÃO 16 anos
    AVALIAÇÃO regular

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