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    Com 'roupa de chefe', Mano Brown mostra repertório romântico

    GIULIANA DE TOLEDO
    ENVIADA ESPECIAL A SALVADOR

    26/07/2014 14h43

    De camisa social e gravata cinza, terno preto e óculos escuros, o rapper Mano Brown arrancou gritos da plateia quando subiu ao palco do festival PercPan (Panorama Percussivo Mundial), em Salvador, na noite desta sexta (25).

    A "roupa de chefe" —como ele mesmo definiria mais tarde, rindo, ao microfone— não seria, porém, a única novidade do show do vocalista dos Racionais MC's em carreira solo.

    A trilha da entrada em cena, "Me Deixa em Paz" (aquela dos versos "Se você não me queria / Não devia me procurar"), anunciava o clima romântico do show.

    O Brown das letras com discurso político sobre opressão só apareceu vez ou outra. "Não vou indicar ninguém para votar não", "tenho que me tornar um anarquista", "tem que botar na mão do povo as decisões", comentou, em conversa com a plateia.

    Na maior parte do tempo, no entanto, o show foi de um Brown exaltando o amor e suas dores, regente de um baile black que agitou o público que lotou a praça da Cruz Caída, no Pelourinho.

    "Hoje aqui é soul music, R&B, hip-hop, cultura negra em geral", definiu ele, que veio acompanhado de um DJ, quatro MCs e dois dançarinos. "Eu canto a vida, o amor, a dor. É a porra do bagulho", disse, exaltando o fato de cantar na terra da sua mãe.

    No repertório, entre outras, entraram "Mulher Elétrica" —lançada pelos Racionais em 2008, com rebuliço de fãs nas redes sociais, por ser romântica— e "Amor Distante". Esta deve estar no primeiro disco solo de Brown, em produção há mais de dois anos, com o título provisório de "Boogie Naipe".

    O romantismo manteve a multidão atenta (e a cerveja vendida pelos ambulantes a três ou até quatro latinhas por R$ 5 pode ter ajudado), mas a catarse só veio nas duas últimas músicas do show, sucessos dos Racionais.

    A plateia reconheceu "Artigo 157" nos primeiros segundos e alguns fãs, em disparada, subiram e lotaram o palco para gritar junto o refrão: "Hoje eu sou ladrão/ Artigo 157/ As cachorra me amam/ Os playboy se derrete".

    Houve vaia quando se pediu para que os fãs deixassem o palco. Sem resposta ao pedido, Brown seguiu e encerrou a noite com "Vida Loka (parte 2)", cercado de jovens de boné que registravam nos seus celulares a façanha de estar do lado do ídolo.

    Não houve intervenção de seguranças ou policiais. "A casa é de vocês. Não posso fazer nada. Tá tudo certo", disse o rapper.

    Marcos Hermes/Divulgação
    O rapper Mano Brown no palco do festival PercPan (Panorama Percussivo Mundial), em Salvador
    O rapper Mano Brown no palco do festival PercPan (Panorama Percussivo Mundial), em Salvador

    SONS DO CORPO

    Dedicada à percussão vocal e corporal, a primeira noite do festival —encerrada por Brown por volta da meia-noite— começou pouco depois das 21h com o grupo baiano Banda de Boca.

    Com quatro cantores e uma cantora, a banda usou somente a voz para entoar sucessos da MPB como "Construção" e "Eu Só Quero um Xodó".

    Depois, o Barbatuques, grupo de São Paulo especializado em tirar som também do batucar no próprio corpo, encheu o palco com 13 integrantes. A formação numerosa garantiu uma grande variedade de sons para enriquecer as interpretações, como a de "Carcará", que impressionou o público.

    A sucessora no palco foi a banda cubana Vocal Sampling, a convidada estrangeira da noite. Com um repertório de ritmos caribenhos reproduzidos com perfeição só com voz e batidas no corpo, o grupo chamou a atenção também pela interação com a plateia. Reboladas e descidas ao chão foram atendidas prontamente na terra do axé.

    Neste sábado, a programação será dedicada a exaltar o papel das mulheres na percussão. A cantora Margareth Menezes encerará a noite (confira abaixo a lista completa de atrações). No domingo, último dia do evento, o "headliner" é Marcelo D2.

    Os shows, todos gratuitos, ocorrem na praça da Cruz Caída (também conhecida como praça da Sé). Por razões técnicas, segundo a organização, o evento teve de alterar o seu local, antes anunciado para o Terreiro de Jesus, porta de entrada do Pelourinho.

    Veja a programação completa do festival

    SÁBADO (26)

    - As Ganhadeiras de Itapuã (Bahia)
    - Leilía (Espanha)
    - Sayon Bamba (Guiné)
    - Orquestra Obìnrin, com participação de Mônica Millet (Bahia) e DJ Lisa Bueno (SP)
    - Banda Didá (Bahia)
    - Margareth Menezes (Bahia)

    DOMINGO (27)

    - Aguidavi do Jeje (Bahia)
    - Márcio Victor e Samba Chula de São Braz (Bahia)
    - Percussivo Mundo Novo (Bahia)
    - Gabi Guedes (Bahia) e DJ Cia (São Paulo) convidam Opanijé, Nelson Maca, Jorjão Bafafé, João Teoria e Simples Rap'ortagem. Com participação especial de Preto Nando (Maranhão), Zé Brown (Pernambuco), Kalyne Lima (Paraíba)
    - Marcelo D2 (Rio de Janeiro)

    A jornalista GIULIANA DE TOLEDO viajou a convite da produção do festival

    PERCPAN
    QUANDO neste sábado (26), às 20h; neste domingo (27), às 19h
    ONDE praça da Cruz Caída, Pelourinho, Salvador
    QUANTO grátis
    CLASSIFICAÇÃO livre

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