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    Diretor de animação sobre os Beatles, Bob Balser faz crítica à tecnologia

    LUIZA FRANCO
    DO RIO

    28/07/2014 03h08

    Em plena corrida por inovações tecnológicas nos estúdios de cinema, o americano Bob Balser, 87, diretor de animação do clássico da beatlemania "Submarino Amarelo" (1968), defende: "Um desenho feito pelo computador não tem alma".

    Diretor de outros trabalhos de sucesso, como a série de TV dos anos 70 sobre o grupo Jackson 5, Balser é destaque na 22ª edição do festival Anima Mundi, que acontece até o dia 3/8 no Rio e de 6 a 10/8 em São Paulo. Ele participa de palestra na quinta (31) na capital carioca e em SP no dia 6/8.

    Em entrevista à Folha, de Los Angeles, ele disse que levou anos para aprender a gostar de "Submarino Amarelo", o desenho animado inspirado na canção homônima de John Lennon e Paul McCartney e que se tornou uma referência do universo dos Beatles.

    Leia os principais trechos.

    Folha - O sr. só trabalhou com animação clássica. O que acha da produção digitalizada?
    Bob Balser - Não sei quem disse a frase, mas eu concordo: um desenho feito pelo computador não tem alma.

    Como começou a trabalhar com animação?
    Essa história é boa. Eu fazia faculdade de artes visuais em Los Angeles e precisava de créditos para me formar. Só a porcaria daquele curso de animação se encaixava e acabou mudando minha vida. Logo consegui emprego em estúdios de Hollywood e depois fui para a Europa.

    Como o senhor se envolveu com "Submarino Amarelo"?
    O trabalho de animador é ingrato. Há períodos em que você trabalha demais e outros em que não há nada para fazer. Estava assim quando chamaram a mim e a mais oito pessoas para o teste. Quando vimos os lindos desenhos psicodélicos de Heinz Edelmann [diretor de arte do longa, morto em 2009], sabíamos qual visual queríamos para o filme.

    Qual foi a parte mais difícil?
    Eu só vou dizer que nós tínhamos três desafios: falta de dinheiro, falta de tempo e falta de roteiro. O resto só conto na palestra.

    O filme é um marco.
    Foi o primeiro a quebrar o estilo Disney de animação. Usamos técnicas que só haviam sido exploradas em curtas [o filme foi feito com fotogramas pintados à mão]. Sendo um filme dos Beatles, já sabíamos que seria um sucesso, então pudemos ousar.

    Sabia que tinha algo revolucionário nas mãos?
    Nenhum artista acha isso. Mas o engraçado é que não gostei do filme. Quando ficou pronto, disse: "Passei um ano trabalhando nesse filme, e ficou péssimo!". Só muitos anos depois consegui gostar.

    É verdade que os Beatles não se interessaram pelo filme até que viram uma versão?
    Sim, eles detestavam o desenho animado sobre eles que passava na TV. Reclamavam dos falsos sotaques britânicos. E achavam que nosso filme seria mais do mesmo.

    Como foi assistir à versão restaurada do Anima Mundi?
    Maravilhoso. Pude corrigir coisas que me incomodavam, como as cores e alguns movimentos dos personagens.

    Que filmes do lado B de sua carreira destacaria?
    Vou exibir pela primeira vez "El Sombrero", curta dos anos 1960 que estava perdido até o ano passado. Foi muito gostoso rever, era como se outra pessoa tivesse feito.

    Editoria de Arte/Folhapress
    Anima Mundi 2014
    Anima Mundi 2014

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