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    Flip quer resgatar produção artística de Millôr Fernandes

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    DE SÃO PAULO

    30/07/2014 02h00

    A Flip 2014, que começa nesta quarta-feira (dia 30), terá a sessão de abertura mais inusitada de toda a história do festival.

    Todos os anos, a primeira noite da Festa Literária Internacional de Paraty (RJ) é tradicionalmente dedicada ao homenageado da edição. Traz palestras densas sobre o estilo e os textos do artista.

    Desta vez, a conferência inaugural, neste ano a cargo do crítico de arte Agnaldo Farias, não vai ter como foco a palavra escrita, mas uma série de desenhos, caricaturas, colagens e pinturas.

    Logo após Farias, a Tenda dos Autores, principal espaço da Flip, será palco de uma conversa entre o cartunista Jaguar e os humoristas do "Casseta & Planeta" Reinaldo e Hubert.

    Esse início eclético, misto de história da arte, humor e TV, abolindo qualquer tipo de hierarquia entre os assuntos, espelha a carreira do homenageado da Flip deste ano, Millôr Fernandes (1923-2012).

    Jornalista, escritor, desenhista, tradutor, teatrólogo, humorista, frasista, autodeclarado inventor do frescobol -foi tudo isso e mais um pouco, quase sempre sensacional.

    Para a conferência na Flip, Farias escolheu destacar uma faceta a seu ver ainda não devidamente reconhecida: produção gráfica.

    "Ele foi um dos grandes artistas plásticos do Brasil. Notamos no trabalho dele a influência de Picasso, Miró, Paul Klee. Estava perfeitamente sintonizado com o que se fazia na vanguarda."

    Farias pretende comentar por volta de 20 trabalhos reunidos no livro "Millôr 100 + 100: Desenhos e Frases", (R$ 50, 264 págs.), que o IMS (Instituto Moreira Salles) lança na Flip. O material cobre toda a carreira do artista, dos anos 1940 aos anos 2000.

    Quase toda a produção gráfica de Millôr foi publicada na imprensa. Para pesquisadores e admiradores, isso dificultou a integração de Millôr ao circuito das artes plásticas.

    "Existe uma visão de que desenhos de encomenda, publicados em jornais, seriam perecíveis. Mas Millôr foi muito além disso. Escolheu a gravura por que ela é mais versátil e de penetração maior que a pintura", diz Farias.

    O acervo de Millôr, em posse do IMS, possui quase 7.000 desenhos. Cássio Loredano, curador do material, quer fazer em 2015 uma grande exposição com cerca de 250 imagens. "Os desenhos e pinturas de Millôr estão muito dispersos. Não foram ainda reunidos. Isso, é claro, prejudica a análise e a difusão do trabalho dele", afirma.

    O humorista Reinaldo é um exemplo, dentre vários, de artista que cresceu tendo Millôr como herói. Conheceu o ídolo em 1974, ao começar a colaborar com "O Pasquim", jornal de humor fundado por Millôr, Jaguar e outros.

    Sobre a Flip, diz que não preparou nada. "Vai ser uma conversa de amigos, vamos ver o que vai dar. Muita gente deve se perguntar: o que estes 'cassetas' vão fazer na Flip?", ironiza.

    Reinaldo lança o livro "A Arte de Zoar" (Objetiva, R$ 49,90), coleção de cartuns. "O grande ensinamento de Millôr foi o da liberdade. Ele mostrou que, diante da página em branco, você pode fazer tudo."

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