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    História negligencia cartunistas, afirma crítico em Paraty

    CRISTINA GRILLO
    ROBERTO DE OLIVEIRA
    SYLVIA COLOMBO
    DOS ENVIADOS A PARATY

    30/07/2014 20h34

    A produção de um artista cuja obra ainda é negligenciada e as histórias de um típico boêmio carioca foram os temas da abertura da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), na noite de quarta (30).

    Os dois perfis descrevem o Millôr Fernandes apresentado em uma conferência pelo crítico Agnaldo Farias, que analisou o desenho na obra do homenageado nesta edição do evento e, logo em seguida, em um bate papo entre três "millormaníacos: os humoristas Hubert e Reinaldo, do Casseta e Planeta, e o cartunista Jaguar.

    Para Farias, "a história da arte negligencia cartunistas, fundamentalmente porque somos muito mal-humorados em nossa historiografia". Por isso, a qualidade da produção artística de Millôr não tem, ainda, o reconhecimento que merece.

    Danilo Verpa/Folhapress
    O crítico literário Agnaldo Farias abre a Flip, em sessão realizada nesta quarta-feira (30)
    O crítico literário Agnaldo Farias abre a Flip, em sessão realizada nesta quarta-feira (30)

    Estes trabalhos, disse o crítico, são vistos no mundo da arte como uma categoria secundária, da mesma forma que a crônica foi avaliada, durante muitos anos, nos meios literários.

    Exibindo nos telões reproduções dos trabalhos de Millôr, Farias discorreu sobre semelhanças entre o traço e as cores usados pelo artista com trabalhos de Miró, Picasso e outros grandes nomes.

    Ao mostrar um dos desenhos, referiu-se ao "bruxoleio da cor", como se fosse a chama de uma fogueira, e a sensualidade que o tal "bruxoleio" trazia ao trabalho.

    Depois da densa e bem fundamentada conferência de Agnaldo Farias, Hubert, Jaguar e Reinaldo fizeram a plateia gargalhar —principalmente Jaguar, 82, que começava histórias a respeito do homenageado e perdia o fio da meada, mas não a atenção do público, que se divertia.

    "Quando eu bebia, não tinha amnésia, mas agora que parei, embaralho tudo, fiquei com amnésia abstêmica", disse.

    Contou a respeito de uma briga que teria acontecido em um bar da zona sul carioca entre Millôr e Chico Buarque —amigo de Tarso de Castro, que vivia as turras com Millôr.

    "Chico cuspiu no Millôr, que jogou tudo que tinha na mesa em cima do Chico", relatou.

    Na época, para não citar nomes, Jaguar contava que tinha havido uma briga entre o maior compositor do Brasil e o maior humorista. Um dia, encontrou Millôr, que disse: "Então eu andei brigando com Martinho da Vila?"

    Ao responder a uma pergunta de Hubert sobre o motivo de Millôr ter conseguido escapar da prisão nos anos da ditadura enquanto todos os seus amigos foram presos, Jaguar disse que ele escapou "porque o carro estava cheio".

    "Como tudo nesse país, a repressão também era uma esculhambação. Prenderam o Ferreira Gullar e mais alguém, aí iam passar na casa do Millôr, mas o carro já estava lotado e eles resolveram voltar no dia seguinte. O Millôr soube e, como era um sujeito brilhante, fugiu", contou.

    A partir daí, Jaguar enveredou por uma longa e divertida história sobre o motivo de ter se apresentado na Vila Militar, na zona oeste do Rio, para ser preso.

    "[Paulo] Francis estava preso e conseguiu me ligar. Disse que se eu me apresentasse, eles seriam soltos. Eu não acreditei naquela história, mas a consciência pesou. E lá fui eu, de táxi. Não teve aquela cena emocionante de ser preso".

    Mas disse que foram os melhores três meses de sua vida. "Levei "Guerra e Paz". Acordava e lia. Se não tivesse sido preso, não teria lido nunca".

    ESTRUTURA DA FEIRA

    Sem as curvas e a exuberância da tenda dos anos passados, a nova é mais achatada e discreta. Apelidada de "7x1" pelos que a montaram, por ser de origem alemã, a nova tenda tem o mesmo custo da anterior (R$ 185.400) e mesma capacidade (850 pessoas), mas esteticamente é mais feia e acanhada.

    "Sempre nos incomodou armar uma estrutura bruta no meio da paisagem tão linda, da luxuriante Mata Atlântica. A nova tenda, mais discreta, permite ver melhor as belezas do lugar", disse à Folha o arquiteto Mauro Munhoz, diretor da Associação Casa Azul, que realiza a Flip.

    Nos dias anteriores ao evento, os donos de restaurantes e pousadas se diziam desanimados com os resultados obtidos durante a Copa do Mundo. Muitos investiram em cursos de inglês para funcionários, esperando um público que, ao final, não veio.

    Segundo a Folha apurou com pessoas da organização, a Copa drenou recursos de empresas que costumam destinar parte de seus investimentos em patrocínio para a Flip. A alta visibilidade do torneio fez com que o dinheiro disponível migrasse.

    No final da tarde desta quarta (30), o movimento começou a aumentar pelas ruas de Paraty. "Gente tem bastante, poucos consomem", disse o empresário Sandro Amorim, da loja Arte Paz. A família dele mantém comércio de artesanato e souvenirs na cidade há 25 anos. "Esperamos incremento de 50%, mas só no fim de semana."

    Os comerciantes já tinham sido avisados em reuniões com a Associação Comercial de Paraty que a estrutura desta Flip seria menor se comparada com edições anteriores.

    Na Livraria de Paraty, a vendedora Yohana Guimenez, 25, afirmou: "O fim de semana vai esquentar. Ao menos nas vendas". Pela visão da rua que tinha, apontou: "Tem muita gente circulando. A festa será boa".

    Otimista também estava o gerente do Café Paraty, Felipe Espírito Santo, 31. Na tarde de quarta (30), já havia comunicado os 16 funcionários sobre a escala de horas extras para o fim de semana.

    Um dos primeiros eventos da Flip foi o lançamento do livro "Os Banquetes do Imperador", com a presença de D. João de Orleans e Bragança, um dos descendentes do imperador D. Pedro 2 e morador de Paraty.

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