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    Autores de três gerações diferentes falam sobre relação com a poesia

    DE SÃO PAULO

    31/07/2014 14h34

    A primeira mesa da Flip, realizada nesta quinta-feira (31), reuniu a jornalista Eliane Brum, o humorista Gregorio Duvivier e o poeta Charles Peixoto, "três autores de gerações diferentes, de atividades diferentes, mas que têm em comum a dificuldade de serem encaixados num rótulo estreito", nas palavras do mediador Miguel Conde.

    Os três falaram, em pouco mais de uma hora, sobre suas relações com a poesia. Eliane abriu a apresentação lendo um texto preparado por ela. A jornalista contou que, quando começou suas andanças como repórter, viu como as pessoas faziam literatura pela boca. "Aprendi poesia com analfabetos, na forma de prosa", disse, dando um exemplo em seguida. "Para uma reportagem, falei com Dorica, uma parteira indígena. Perguntei a ela o que ela fazia e ela me respondeu: 'A parteira é chamada a povoar o mundo nas horas mortas da noite'."

    "Há certas realidades que só a ficção suporta", afirmou. "As palavras são insuficientes para dar conta da vida. Essa é a tragédia e a graça dessa busca condenada ao fracasso, mas de uma beleza tão pungente."

    Mais coloquial, Duvivier falou em seguida. "É meio humilhante vir depois da Eliane. Ela está salvando o mundo, ajudando todas as minorias do planeta, e eu tenho um canal de humor no YouTube. É uma vergonha", brincou, arrancando risos dos presentes.

    Duvivier discorreu sobre a poesia de Millôr Fernandes, homenageado desta 12ª edição da Flip. "A poesia dele tem muito humor e o humor dele tem muita poesia. É por isso que sou fanático por ele", disse. "É impressionante como a obra dele é atual. E isso tem muito a ver com a poesia e com a humanidade que há no humor dele."

    Para ele, o humor de hoje perdeu o afeto. "As pessoas confundem a liberdade com a galhofa e a falta de educação", afirmou. "Fazer humor e poesia é a mesma coisa: jogar um olhar não viciado sobre um assunto amplamente debatido sobre o qual as pessoas têm mil preconceitos."

    Peixoto foi breve em seu discurso de abertura. "Estar nesta Flip é um reconhecimento, porque os críticos diziam que o que eu fazia era 'lixeratura'."

    Ao ser questionado por Conde se faz poemas com o que ama e piada com que odeia, Duvivier brincou. "Eu gostaria muito de fazer poesias sobre a polícia militar, mas ela não permite." Depois, fala mais sério. "Pode não parecer, mas tento colocar afeto no humor. No Porta dos Fundos não fazemos críticas nominais, porque vira agressão."

    Os três autores presentes leram ao público trechos de suas obras. Duvivier leu dois poemas de "Ligue os Pontos" (Companhia das Letras) e dois textos de "Put Some Farofa", que sai em novembro pela mesma editora. Ele levou o público às gargalhadas com a leitura de duas de suas colunas na Folha: "Pardon Anything" e "Xingamento".

    Nos últimos cinco minutos, Conde abriu espaço para perguntas do público. Só houve tempo para uma questão, sobre a importância do descontrole para um escritor.

    Duvivier respondeu que, para ele, a lucidez é fundamental na hora da escrita. "Mesmo que para chegar a essa lucidez você tenha que usar psicotrópicos."

    Peixoto encerrou a mesa dizendo que ouve vozes independente de estar ou não sob efeito de drogas, e que incorpora isso em sua obra.

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