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    Vendedores ambulantes de livros chamam a atenção em Paraty; assista

    ROBERTO DE OLIVEIRA
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY

    03/08/2014 02h07

    Um livro debaixo do braço e uma frase feita na ponta da língua: "Arte não tem preço, mas aceito uma contribuição", anuncia um vendedor de livros pelas ruas de pedra de Paraty.

    Basta caminhar um quarteirão para se deparar com aquela clássica abordagem: "Gosta de literatura?". Vai você dizer que não.

    A três quarteirões da praça enfeitada com letras inspiradas na escrita de Millôr Fernandes, o autor homenageado desta 12ª edição da Flip, o baiano Rogério Snatus, 37, anunciava: "A poética está no ar, portanto, temos que ir aonde a brisa nos levar".

    Snatus cumpriu sua profecia: deixou São Tomé das Letras (MG), onde, disse, provou "cogumelo azul com o intuito de transcender para outras dimensões", e foi vender sua arte em Paraty. Trouxe 500 exemplares para a festa.

    Veja vídeo

    "Faço uma poesia incógnita, cósmica. E literatura de cordel, que, infelizmente, é ignorada."

    De ônibus, carona e a pé, levou uma semana para chegar. Não fazia ideia dos escritores que participam do evento. "Posso dar uma olhada na programação?" Desistiu e desconversou. "A Flip é elitista. Aqui arte é mercadoria."

    Formado em economia com pós-graduação em administração, Snatus flana pelas portas de bares e restaurantes e mostra seu "Muié, Bicho Bão!", livreto de oito páginas, em papel sulfite, constituído de oito estrofes.

    Danilo Verpa/Folhapress
    O escritor Rogério Snatus, em Paraty
    O escritor Rogério Snatus, em Paraty

    HOMEM-BORBOLETA

    Sob o sol ardido do meio da tarde, pertinho do conforto das tendas refrigeradas da Flip, a estudante Lisandra Almeida, 19, tem o plano de vender 500 exemplares do seu livro "Área Restrita".

    A obra narra a história de Rafaela, adolescente que entra em choque por causa do assassinato da mãe e acaba se envolvendo numa tórrida história de amor com o suspeito do crime.

    De Volta Redonda (RJ), Lisandra trouxe dois assistentes. Paulo Torres, 26, trata de divulgar a obra, fechar acordos de palestras e, é claro, carregar os livros. A outra é uma amiga da escritora.

    "Não é só para vender. Estamos aqui também para trocar energia, experiências e fazer amizades", diz Lisandra.

    Esse é um dos principais argumentos defendidos por grupos de artistas peregrinos, nos quais se incluem hippies, poetas, hare krishnas e fashionistas andantes.

    De calça laranja, camiseta branca com a imagem de Prabhupãda, líder hare krishna, o peruano Sadhu Syam Das, 42, pingava de suor, ao desviar-se de pedras menores pela rua, equilibrando-se com 35 livros nas mãos.

    "Na Flip, você encontra um público com mente aberta. Não estou aqui com o propósito de divulgar literatura comercial, mas, sim, espiritual", diz Syam Das, que mora há dez anos no Brasil.

    Explica que usa quatro métodos de abordagem do transeunte. "Posso começar com 'você gosta de ler?', ou me apresentar, falar da filosofia ou também colocar o livro na mão da pessoa e dizer que não sou um comerciante".

    Syam Das frisa que não visa lucro. "Divulgar a filosofia é o importante." Nem todos por ali, porém, transitam pelo mesmo caminho.

    Danilo Verpa/Folhapress
    O escritor Ni Hao, (Thiago Almeida Correia, 70) que vende livros pelas ruas de Paraty durante a Flip
    O escritor Ni Hao, (Thiago Almeida Correia, 70) que vende livros pelas ruas de Paraty durante a Flip

    Cinco minutos de conversa com Tiago Almeida Corrêa, 70, e ele dispara: "Não me enrola não que você tem que deixar uma prata aqui".

    Corrêa atende por dois nomes artísticos: Ni Hao (cumprimento chinês), e, o mais famoso deles, Homem-Borboleta. Prefere ficar sentado do que correr atrás de possíveis consumidores.

    Trajando uma bata verde-limão, o artista usa borboletinhas de plástico "made in China" fixadas por toda parte, inclusive na tiara vermelha que usa na cabeça, e na barba e no bigode.

    Logo avisa: "Sou megalomaníaco". Adora citar autores e soletrar os nomes.

    Formado em direito, ex-professor de história, geografia e português, vende, além de livros, moedas, conchas, chapéu mexicano e, é claro, grampos e broches em forma de borboleta.

    "E imaginar que quando tinha 11 anos, eu matava as pobrezinhas e enfiava alfinete nelas", disse, emendando outros relatos, que misturavam revolução mexicana com mediunidade, o guru espiritual indiano Sathya Sai Baba com Jesus Cristo.

    "Minha obra é baseada na minha vida", afirmou, para, em seguida, retomar a fala sobre... borboletas.

    HOJE EM PARATY

    10h - Ouvir estrelas
    com Marcelo Gleiser e Paulo Varella
    MEDIAÇÃO Bernardo Esteves

    12h - Romance em dois atos
    com Fernanda Torres e Daniel Alarcón
    MEDIAÇÃO Ángel Gurría-Quintana

    14h - Os sentidos da paixão
    com Almeida Faria e Jorge Edwards
    MEDIAÇÃO Paulo Roberto Pires

    16h - Livro de cabeceira
    com Andrew Solomon, Etgar Keret, Graciela Mochkofsky, Joël Dicker, Juan Villoro, Fernanda Torres Eduardo Viveiros de Castro, e Marcelo Rubens Paiva

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