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    Crítica: Livro de Isabel Allende tem trama esquisita e personagens bizarros

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    02/08/2014 02h25

    Primeiro livro policial da escritora chilena-norte americana Isabel Allende, 71, "O Jogo de Ripper" é um martírio. Chegar ao fim das 490 páginas de uma historia implausível, com personagens caricatos, diálogos risíveis e um tom esotérico e místico que tenta esconder, sob um verniz sobrenatural, a ruindade da trama, é tarefa para abnegados.

    O livro é um "whodunit" –aquele em que o autor dos crimes é revelado no fim–, mas Allende mostra não ter competência para criar um mistério minimamente credível. Ela esconde informações relevantes do leitor e saca da cartola uma solução inteiramente absurda.

    A trama é estrambólica: em São Francisco, começam a acontecer assassinatos misteriosos. Ninguém percebe que se trata de crimes cometidos pelo mesmo assassino.

    Fernando Villar/Efe
    A escritora Isabel Allende, que lança livro policial "O Jogo de Ripper"
    A escritora Isabel Allende, que lança livro policial "O Jogo de Ripper"

    Quer dizer, ninguém, menos alguns adolescentes espalhado pelo mundo, que se reúnem virtualmente na internet para um jogo chamado "Ripper", onde tentam desvendar crimes.

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    O Jogo De Ripper
    Isabel Allende
    O Jogo De Ripper
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    A líder do jogo é uma adolescente chamada Amanda Jackson. A mãe de Jackson, Indiana, uma massagista e mestre de Reiki que atende numa clínica holística, parece ser um alvo possível do assassino.

    O pai de Amanda –e ex-marido de Indiana– é simplesmente o chefe do setor de homicídios da cidade, que não vê problema algum em dividir com a filhinha as descobertas das investigações, inclusive de autópsias.

    O namorado de Indiana é um ex-soldado das Forças Especiais americanas que trabalha para a CIA, tem uma perna mecânica e a companhia de um cão assassino chamado Attila.

    Junte a essa trupe uma vidente e astróloga que prevê os crimes, uma policial mestre em artes marciais e um simpático velhinho, avô de Amanda, que se junta aos adolescentes no jogo de Ripper. Nem a novela "Saramandaia" tinha tantos personagens excêntricos e bizarros.

    E tome diálogos como "Eu te amo tanto que me dói aqui, como se uma lápide estivesse esmagando meu peito" e personagens que solucionam mistérios pela força dos "pressentimentos".

    Como explica uma delas: "Os anjos e espíritos falam comigo. Os vivos e os mortos somos a mesma coisa". Então tá. Para quem gosta de literatura policial de verdade, recomendo esperar até setembro, quando sai nos EUA o novo de James Ellroy, "Perfidia".

    ANDRÉ BARCINSKI é diretor de "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", do Canal Brasil

    O JOGO DE RIPPER
    AUTORA Isabel Allende
    TRADUÇÃO Luis Carlos Cabral
    EDITORA Bertrand Brasil
    QUANTO R$ 50 (490 págs.)
    AVALIAÇÃO ruim

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