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    Barcinski: 'Fãs de festa literária agem como se estivessem num show de rock'

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    02/08/2014 22h46

    O ônibus desce a Tamoios, vindo de São Paulo com destino a Paraty. Um grupo de senhoras, aparentemente na casa dos sessenta anos, discute as atrações da Flip: "Ah, eu quero ver esse Pollan, parece muito interessante". Outra se diz fã de Antônio Prata. Uma terceira diz que não perde a mesa com Fernanda Torres de jeito nenhum. Parece um grupo de adolescentes rumando para uma colônia de férias. Quando o ônibus chega a Paraty, as senhorinhas aplaudem.

    A história me foi contada por um amigo, e reflete bem o espírito festeiro de muitos turistas que vêm à cidade para a feira literária. Este ano, devido a mudanças nas instalações da Flip, a festa ficou ainda mais democrática: se, até o ano passado, as pessoas tinham de pagar para assistir aos debates no telão (mas era perfeitamente possível ver o telão do lado de fora da tenda), este ano há dois grandes telões, um em cada lado do rio Perequê-Açu, onde o público pode assistir aos debates sem pagar nada. Um deles fica no meio de uma quadra de esportes no Centro Histórico. Ao lado da quadra, barraquinhas vendem caipifrutas, pastéis e um drink verde chamado "Xixi do Hulk".

    O público da Flip é uma mistura só: grupos de senhoras, estudantes, aspirantes a escritor, músicos de rua e até uns punks, que protestavam contra tudo e todos. As ruas estão cheias, mas não tão cheias como em outros anos. Mesmo que a prefeitura diga que a ocupação de hotéis está 10% menor que no ano passado, a impressão é de que há metade do público de outras edições. Na noite de sexta, não havia sequer fila para jantar em alguns dos restaurantes mais concorridos de Paraty. Ano passado, na mesma noite, esperei uma hora por uma mesa. Pode ser ainda reflexo da Copa, que prejudicou muito o turismo na região.

    E na hora de tietar os ídolos, as fãs esquecem a "etiqueta" de uma festa literária e agem como se estivessem num show de rock. A enorme fila de mulheres que se formou para tirar fotos de Xico Sá, por exemplo, foi digna de um popstar. E no debate com Guilherme Arantes, uma admiradora confessou: "Você foi a minha primeira paixão. Eu tinha 13 anos e fiquei louca por você!"

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    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e diretor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil

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