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    Chileno Jorge Edwards e português Almeida Farias enfocam ditaduras de seus países

    MARCO RODRIGO ALMEIDA
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY

    03/08/2014 15h56

    Escritores de prestígio internacional, mas ainda pouco conhecidos no Brasil, o chileno Jorge Edwards e o português Almeida Farias se encontraram na tarde deste domingo (dia 3) na tenda dos autores da Flip.

    Os principais livros de ambos enfocam as ditaduras e traumas políticos de seus países.

    Primeiro romance de Edwards lançado por aqui, "A Origem do Mundo" narra a ciranda amorosa entre três personagens. O médico chileno Patricio Illanes, stalinista na casa dos 70 anos radicado em Paris desde a instauração da ditadura em seu país, desconfia que a mulher mantém um romance com o melhor amigo do casal.

    A trama traz ecos de "Dom Casmurro" - Edwards traduziu Machado de Assis para o espanhol e publicou um ensaio sobre ele em 2002.

    O escritor seguiu carreira diplomática - foi embaixador em Paris até o começo do ano, quando aposentou-se - e viveu exilado do Chile após o golpe militar de 1973.

    "Minha geração era muito inteligente. Mas nos faltava um elemento mais importante que a inteligência - a sabedoria. Não soubemos enfrentar esses grandes desafios. O governo de Salvador Allende cometeu erros que desestabilizaram a democracia chilena. O grande erro foi não ter compreendido a inflação. Chegamos ao final do governo dele com inflação na casa dos 500%", disse.

    "O Chile é hoje uma democracia estável. Por fim, acho que a sabedoria foi mais importante que a inteligência."

    O português Almeida Farias escreveu seu principal romance, "A Paixão" (1965), publicado quanto tinha apenas 22 anos, em resposta ao tédio e à ditadura de Salazar.

    "Era um livro de fúria contra a ditadura. O romance é uma maneira de dizer sua fúria quase sem mencionar a política. Aquela era uma era de trevas. Eu sugeria mais do que contava."

    Ambos também comentaram as relações com escritores brasileiros.

    Edwards foi amigo íntimo de Rubem Braga, que apresentou a ele a obra de Machado de Assis.

    "Era calado e difícil de compreender, ainda não falava bem o espanhol. Depois me disseram que era um excelente escritor. Então foi tentar falar com ele. Li seus textos e achei extraordinários. Fomos amigos. Bebemos muito uísque no Chile."

    Já Faria teve encontros com Ariano Suassuna e Raduan Nassar. Fascinado por "A Paixão", Nassar enviou a Faria um exemplo de seu romance "Lavoura Arcaica" nos anos 1970.

    Faria espera encontrar-se com o recluso autor brasileiro na próxima semana, em São Paulo.

    Em 2001, o português dividiu mesa com Suassuna na Fliporto, festival literário de Pernambuco.

    No fim da mesa, Faria citou de cor o poema "Retrato", de Cecília Meireles.

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