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    Filme 'O Homem das Multidões' tem cenas no formato de telas de celulares

    NATÁLIA ALBERTONI
    DE SÃO PAULO

    05/08/2014 02h00

    "O Homem das Multidões", de Cao Guimarães e Marcelo Gomes, que estreou nos cinemas na semana passada, mostra o cotidiano de dois funcionários do metrô.

    Juvenal (Paulo André) é o maquinista que está sempre sozinho, mesmo quando cercado de gente. Margô (Silvia Lourenço), controladora de uma estação de metrô em Belo Horizonte, experimenta a mesma sensação, mas protegida por telas de computadores e celulares.

    O espectador segue a vida dos dois solitários como se estivesse acompanhando a narrativa pela tela de seu smartphone com filtros do Instagram (rede social de fotos e vídeos). O formato quadrado do filme, que ocupa cerca de um terço da tela do cinema, contribui para essa sensação.

    Divulgação
    O ator Paulo André (rosto em foco), no longa 'O Homem das Multidões
    O ator Paulo André (rosto em foco), no longa 'O Homem das Multidões'

    Gomes, que dirigiu "Cinema, Aspirinas e Urubus" e "Viajo Porque Preciso, Volto Porque te Amo", é conhecido por fazer filmes que não seguem esquemas narrativos habituais, com espaço para experimentação.

    No caso de "O Homem das Multidões", o diretor afirma que a semelhança entre a linguagem do longa e a compartilhada por celulares não foi premeditada.

    A configuração, segundo ele, foi pensada para construir um quadro claustrofóbico, que combinasse com o sentimento dos personagens. O que de fato acontece. Não são poucos os momentos de incômodo na poltrona ao longo dos 95 minutos.

    Para criar o efeito, os diretores usaram máscara sobre a câmera (16:9, com formato retangular). Por isso, em algumas cenas o protagonista sai de quadro e provoca o imaginário do espectador.

    Guimarães diz que a imagem ecoa o início da história do cinema, com imagens quadradas. "Os quadros se tornaram retangulares por uma imposição da indústria", afirma o diretor.

    "A maioria dos cineastas não usa o quadro como linguagem. É bacana trabalhar com alguém que vem das artes plásticas como o Cao, porque há mais liberdade. Mas é necessária uma razão conceitual, senão vira um maneirismo qualquer", diz Gomes.

    O formato quadrado também foi usado pelo cineasta canadense Xavier Dolan no filme "Mommy", que venceu o prêmio do júri no festival de Cannes de 2014.

    SOLIDÃO

    "O Homem das Multidões" se soma aos documentários "A Alma do Osso" e "Andarilho", de Guimarães, completando uma trilogia do diretor sobre a solidão. Apesar disso, ele diz não ser obcecado pelo tema.

    Vídeo

    Assista ao vídeo em tablets e celulares

    "Eu queria esvaziar essa concepção negativa da solidão, porque ela não é simplesmente um mal. Estive sozinho em grandes momentos da minha vida. Foram muito importantes para eu me reinventar", diz Guimarães.

    A história de Juvenal e Margô se desenrola, lentamente e com poucos diálogos, em Belo Horizonte, mas poderia estar ambientada em qualquer metrópole. Inspirada no conto "O Homem da Multidão", do americano Edgar Allan Poe (1809-49), é uma constatação do isolamento no mundo contemporâneo

    "Um personagem vive a solidão cercada de corpos, e o outro vive a solidão de almas", diz Gomes.

    Antes de estrear nos cinemas brasileiros, "O Homem das Multidões" foi exibido em Berlim, Miami, Nova York, Guadalajara, Buenos Aires, Copenhague, Seul, Barcelona, Lima e Estocolmo, além de Toulouse, na França onde ganhou, no início deste ano, o Grand Prix Coup de Coeur do 26º Festival de Cinema Latino-Americano.

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