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    Candido Portinari pintou via-sacra sem rascunho

    CAMILA TURTELLI
    DE RIBEIRÃO PRETO

    05/08/2014 02h20

    As telas de Candido Portinari (1903-62) abrigadas na Igreja Matriz do Senhor Bom Jesus da Cana Verde, em Batatais (interior de São Paulo) foram criadas sem hesitação, rascunho ou remorso.

    É o que já revela uma pesquisa em andamento do Instituto de Física da USP (Universidade de São Paulo) sobre o conjunto de quadros.

    As obras do artista paulista na igreja de Batatais estão sendo restauradas desde janeiro. São, no total, 28 telas. Dez das 14 telas da via-sacra já foram restauradas. O restante deve ficar pronto até outubro. O trabalho custou R$ 374 mil ao Estado.

    Edson Silva/Folhapress
    Restaurador cobre o quadro "São Sebastião", de Candido Portinari, na igreja matriz de Batatais (SP)
    Restaurador cobre o quadro "São Sebastião", de Candido Portinari, na igreja matriz de Batatais (SP)

    Com auxílio de raio-X e infravermelho, os pesquisadores detectaram que por trás das pinturas não havia nenhum tipo de rascunho. Isto significa que ele criou sem errar as telas que chegam a ter 299 x 199 cm de dimensão.

    Para a professora e coordenadora do curso de pós-graduação de história da arte da Faap, Caru Duprat, apesar de não ser raro, a técnica de Portinari demonstra que o pintor tinha total domínio da técnica. "Isso aparece bastante nos expressionistas, como Van Gogh. [Portinari] Era um exímio desenhista", afirma.

    Para o curador-chefe do Masp (Museu de Arte de São Paulo), Teixeira Coelho, a descoberta acrescenta à biografia do pintor. "Ele pintava praticamente 'de olhos fechados'. Fazia estudos no papel e transcrevia para a tela", diz Márcia de Almeida Rizzutto, pesquisadora da USP.

    "Portinari era um artista muito organizado e planejava bem suas criações com antecedência", disse a restauradora das obras, Florence Maria White de Vera.

    De acordo com Rizzutto, o objetivo principal da pesquisa da USP é definir a paleta de cores e pigmentos usada por Portinari durante o período de criação das obras, entre 1952 e 1953.

    O trabalho já revelou a preferência de Portinari pelo uso de pigmentos como o vermelho, à base de ferro, e o azul, à base de cobalto.

    EXPOSIÇÃO

    Em Brasília, a obra mais valiosa do Museu de Valores do Banco Central, o painel "Descobrimento do Brasil", de Portinari, poderá ser visto pelo público no primeiro sábado de cada mês a partir de agosto.

    A exibição faz parte da mostra "A Persistência da Memória", na sede da instituição em Brasília.

    A primeira parte da exposição começou em junho e pode ser vista de terça à sexta, das 10h às 18h.

    Somente agora, no entanto, será possível ver o painel de cinco metros de altura. E apenas no primeiro sábado de cada mês, das 14h às 18h.

    Colaborou Eduardo Cucolo, de Brasília

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