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    Crítica: 'Boogie Oogie' fica bem aquém do padrão Globo de qualidade

    RICARDO FELTRIN
    COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

    06/08/2014 02h26

    A Globo estreou nesta segunda (4) uma novela ambientada nos anos 1970. Após "Império" (21h30) e o remake de "O Rebu" (23h), "Boogie Oogie" volta àquela década. Segundo dados do Ibope, a novela registrou média de 20 pontos -meio ponto a mais que a antecessora, "Meu Pedacinho de Chão".

    O que primeiro chama a atenção é a confusão que a Globo criou para si mesma nas linguagens específicas para cada faixa horária de novela. Antes, todos sabiam de antemão que às 18h haveria uma novela romântica, de época, para cativar o público que chega em casa do trabalho e não quer ver violência.

    Às 19h começava o horário de ação, com histórias menos previsíveis, vilões maquiavélicos, porém caricatos, e protagonistas envolventes.

    Hoje, no entanto, o telespectador não sabe ao que vai assistir. Sai a fábula de "Meu Pedacinho..." e entram de novo explosões, mortes e uma troca de bebês na maternidade. Afinal, vale a pergunta: que obsessão é essa da Globo por troca de bebês? Está faltando assunto, pelo jeito.

    Paulo Belote/Divulgação/TV Globo
    Sandra (Isis Valverde) a caminho de seu casamento em cena do primeiro capítulo de 'Boogie Oogie', nova novela global
    Sandra (Isis Valverde) a caminho de seu casamento em cena do primeiro capítulo de 'Boogie Oogie'

    Desde a preparação do elenco, já se ventilava na Globo que a trama do moçambicano Rui Vilhena seria uma espécie de homenagem a "Dancin' Days" (1978), de Gilberto Braga.

    Na estreia, soou mais como plágio e menos como homenagem, especialmente em algumas cenas toscas e um cenário exagerado até para os anos 1970.

    É preciso falar ainda da insistência da emissora em, assim como em "Império" e "O Rebu", colocar trilha sonora daquele período. Independentemente do contexto condizente com a época e da qualidade inegável de um Elton John, a impressão, para os mais atentos, é a de mesmice sonora em pelo menos três das quatro atuais tramas.

    Se não fosse uma emissora tão rica poderíamos especular maliciosamente que alguma editora musical está fazendo liquidação de canções dos anos 70 para a Globo.

    Outra repetição é o modismo de imagens aéreas. Depois das épicas cenas iniciais de "Império", mais uma vez uma história começa no ar, em um aviãozinho que cai após uma pane. Ele quase se choca com o táxi que levava um noivo para a igreja.
    Tais exageros dramáticos já viraram folclore. Quem não se lembra de, pouco tempo atrás, em "Amor à Vida", Juliano Cazarré, amarrado, ser esfaqueado dezenas de vezes, conseguir fugir, saltar de vários andares e sobreviver?
    Em "Boogie Oogie", a queda do avião ficou bem aquém do chamado padrão Globo de qualidade. Ficou tudo muito forçado -da cena em si até o resgate do piloto pelo noivo, que, numa reviravolta (literal) do destino, salva a vítima, mas acaba preso e morre. Curioso é que todo esse malabarismo seja feito para dar alguma lógica ao roteiro.

    Mais curioso é que o piloto sobrevivente, ensanguentado e à beira da morte, prefira ir à igreja avisar a noiva que o amado morreu -em vez de chamar o Samu dos anos 1970 e salvar a própria vida.

    Como em "Império", a Globo escalou um elenco de alto nível para segurar a trama. Em tempos de ibope cada vez menor, não dá mais para se arriscar com jovens atores saídos de "Malhação".

    A novela tem de Francisco Cuoco a Letícia Spiller; de Alessandra Negrini a Giulia Gam; além de Deborah Secco e Isis Valverde, em seu primeiro grande papel, de fato.

    Time bom existe. Mas, como a última Copa mostrou ao Brasil, só jogadores bons não vencem uma competição. É preciso tática, boa estratégia e um competente técnico-autor. Ainda é cedo para saber, mas o primeiro capítulo não foi muito auspicioso.

    BOOGIE OOGIE
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