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    Famoso por comédias, Jorge Furtado lança documentário sobre a imprensa

    GUILHERME GENESTRETI
    DE SÃO PAULO

    06/08/2014 16h25

    Foi uma dívida que levou o diretor Jorge Furtado ("Meu Tio Matou um Cara", "O Homem que Copiava") a deixar um pouco de lado as comédias que o fizeram famoso e enveredar por seu primeiro documentário, "Mercado de Notícias", que estreia nesta quinta (7).

    "Tinha de prestar contas com uma velha paixão", diz o cineasta gaúcho. O amor em questão é o jornalismo, que ele abandonou ainda na faculdade ao migrar para o cinema.

    "Mercado de Notícias" é a fatura. No filme, Furtado entrevista 13 jornalistas para debater os rumos da imprensa no Brasil e no mundo.

    Os convidados, escolhidos por afinidade de Furtado, vão de Fernando Rodrigues e Janio de Freitas, ambos da Folha, a Geneton Moraes Neto, da Globo, e José Roberto de Toledo, do jornal "O Estado de S. Paulo".

    "Busquei pessoas de repercussão nacional, mas da área de política", diz. "Alguns têm opiniões opostas, mas todos têm a mesma obsessão de achar a verdade, que é bem o oposto da minha profissão de ficcionista, com liberdade total."

    No filme, eles debatem a credibilidade da informação na internet, a corrida contra o tempo para dar a notícia antes do concorrente, destruição de reputações, além de casos notórios como o que ficou conhecido como "Escola Base" " —colégio paulistano que fechou após denúncias, nunca provadas, de abuso sexual contra os seus alunos veiculadas pela imprensa em 1994.

    Zanone Fraissat/Folhapress
    O diretor Jorge Furtado
    O diretor Jorge Furtado

    Na época, as denúncias foram publicadas com base em acusações precipitadas feitas por um delegado de polícia. O colégio foi depredado e fechou; o inquérito foi arquivado por falta de provas.

    "Um dos pontos mais importantes é essa recusa da imprensa em se assumir como agente político. Casos como esse da Escola Base, nos quais a mídia teve papel decisivo, só mostram o poder que ela tem."

    Intercaladas com os depoimentos há cenas do ensaio da peça homônima do britânico Ben Jonson (1572-1637), escrita à época do surgimento dos primeiros jornais na Inglaterra.

    "É impressionante como é atual", afirma Furtado. "Jonson já tratava das pessoas que faziam tudo para aparecer, do jornalista que inventava matéria, da manchete sensacionalista, das notícias sobre besteiras que eram sempre as mais lidas."

    Apesar de focado no jornalismo, o diretor não crê que o filme vá interessar apenas a gente da área. "É para quem gosta de notícia", diz.

    Ele também descarta que "Mercado de Notícias" defenda qualquer tese sobre a imprensa. "Se tem uma bandeira que o filme levanta é a de que quem não está em dúvida, está mal informado."

    Além do documentário, Furtado tem outros projetos na manga —nenhum é comédia. "Acho que é por causa da idade, não sei", afirma o diretor de 55 anos.

    Em 2015, sai o drama "Beleza", seu novo longa. A trama conta a história de um fotógrafo (Vladimir Brichta), que se envolve com a mãe de uma das modelos que registra. O filme se passa no Rio Grande do Sul, berço de várias das famosas modelos brasileiras.

    "Começou com uma investigação sobre o sentido da beleza plástica. Acabou virando uma história romântica."

    Ainda neste ano tem mais Furtado nos cinemas. "Boa Sorte", de Carolina Jabor, foi roteirizado pelo diretor a partir de um conto que ele mesmo escreveu, "Frontal com Fanta".

    No filme, que deve sair em outubro, Deborah Secco interpreta uma garota soropositiva que se apaixona por um adolescente (João Pedro Zappa) internado numa clínica de reabilitação.

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