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    Filme indicado ao Oscar 'Omar' narra história de militante palestino

    DIOGO BERCITO
    EM MADRI

    07/08/2014 02h00

    Quando as luzes do cinema se apagarem, no dia 13, e a tela começar a exibir "Omar", o filme não será visto apenas como peça de ficção. Produção palestina em tempos de conflito em Gaza, o longa será colorido pelas notícias que vêm dali.

    "O que está acontecendo em Gaza, assim como o que vemos na história de 'Omar', é trágico", afirma à Folha o ator e produtor Waleed Zuaiter. O longa, que concorreu ao Oscar, abrirá a 9ª Mostra Mundo Árabe de Cinema.

    Israel iniciou, em 8 de julho, uma operação militar contra a faixa de Gaza, controlada hoje pela facção palestina Hamas. Mais de 1.800 palestinos foram mortos ali.

    O tema faz parte da mesma narrativa que motiva o filme. "Omar" conta os percalços de um jovem palestino (interpretado por Adam Bakri) enquanto se equilibra entre o amor pela tímida Nadia (Leem Lubany) e as atividades terroristas contra a ocupação israelense da Cisjordânia, iniciada em 1967.

    Divulgação
    Waleed Zuaiter (à esq.) e Adam Bakri em cena do filme 'Omar'
    Waleed Zuaiter (à esq.) e Adam Bakri em cena do filme 'Omar'

    Ele tem por antagonista o interrogador israelense Rami, personagem de Zuaiter. Filho de refugiados palestinos e criado no Kuait, Zuaiter é também produtor de "Omar" e foi um dos responsáveis pela sua execução.

    Zuaiter fundou, com seus irmãos, uma produtora para arrecadar fundos ao filme, que teve 95% de financiamento privado palestino, incluindo o empresário local Munib al-Masri. "Foi um processo difícil, mas veloz."

    Estima-se que "Omar" tenha tido orçamento de US$ 2,1 milhões (R$ 4,8 mi), arrecadado durante seis meses.

    Zuaiter nota que, dados os riscos de rodar um filme em Israel e na Cisjordânia, o modelo de investimento exigia que todo o dinheiro fosse aplicado simultaneamente.

    A produção incluiu, ainda, autorizações delicadas como a necessária para filmar nos dois lados do muro que separa esses dois territórios.

    MATERIAL

    A produtora Zbros deve, após o sucesso de "Omar", indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro neste ano, investir no cinema palestino. Zuaiter prefere não comentar os próximos projetos, mas tenta rodar agora a história de uma família que se muda para os EUA, como a sua.

    "Há palestinos vivendo em Israel, na Cisjordânia e em Gaza", afirma Zuaiter, para além daqueles refugiados ao redor do mundo. "Há muitas histórias para serem contadas, muito material."

    Como a vida do jovem padeiro Omar, que levou aos cinemas a complicada dinâmica entre um militante e um interrogador israelense -na qual Zuaiter teve de interpretar seu próprio antagonista, aprendendo a falar hebraico e a entender quem está do outro lado do conflito.

    "Eu sabia que meu personagem ia receber muita atenção, por eu ser um palestino interpretando um israelense", afirma. "Queria que fosse real, e não um estereótipo. O filme não é sobre política, mas sobre dois seres humanos tendo uma conversa."

    Sem poder entrevistar o serviço secreto israelense, por questões de segurança, Zuaiter recorreu à própria equipe para montar o personagem. Diversos membros do time —"Omar" criou 50 empregos ali— haviam sido, em algum momento, interrogados por um israelense.

    "Havia semelhanças entre todas as histórias, incluindo o uso de tortura psicológica", diz. O elemento é central na história do longa palestino, em que Omar é paralisado pela ideia de que o interrogador conhece os seus segredos.

    Os quatro meses de filmagem em Israel e na Cisjordânia, com base na cidade de Nazaré, deram "um pouco de esperança" a Zuaiter, mostrando-lhe situações de convivência. Fora sua primeira passagem pela região. Mas a experiência, afirma, em geral tornou-lhe mais sensível.

    "Senti que os palestinos são uma minoria, como os artistas. São tratados como cidadãos de segunda classe."

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