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    Análise: Com humor frenético, Robin Williams foi um gênio do improviso

    ANDRÉ BARCINSKI
    ESPECIAL PARA A FOLHA

    13/08/2014 02h15

    Quem assiste a reprises das comédias juvenis de quinta que Robin Williams, Eddie Murphy, Steve Martin e Billy Crystal fizeram nos últimos 20 anos não tem ideia de como eles eram radicais e transgressores quando surgiram.

    Todos apareceram mais ou menos na mesma época, entre o meio dos anos 70 e o início dos 80 (Murphy era bem mais novo que os outros, mas explodiu antes de fazer 20 anos) e fizeram a transição de shows de stand-up para as telas do cinema. Viraram superastros da comédia americana.

    De todos, Williams fez os piores filmes, a maioria indignos de seu talento. Teve imenso sucesso de bilheteria, mas suas escolhas sempre oscilaram entre comédias bobas e melodramas chorosos.

    Mas quem já viu Robin Williams fazendo stand-up sabe que ali estava um verdadeiro gênio do improviso. Ele aprendeu com o grande mentor, Richard Pryor, a arriscar tudo, a não temer o ridículo, a ir ao limite de suas capacidades para arrancar uma gargalhada.

    Seu estilo era frenético, non-stop, numa avalanche ininterrupta de frases, imitações e piadas. Era amigo íntimo e companheiro de cheiração de John Belushi, e não à toa, em alguns shows, eles pareciam empenados de tanto pó.

    Williams era um dos poucos que parecia ir ao palco sem ter nada preparado, tirando situações e humor da cabeça e das memórias. Perguntem a Jim Carrey com quem aprendeu boa parte do que sabe.

    Participei de duas entrevistas com Robin Williams. Os filmes não eram grande coisa: "Nove Meses" e "A Gaiola das Loucas", mas nunca ri tanto em uma entrevista.

    Numa delas, uma jornalista francesa perguntou por que filmes europeus não eram exibidos com mais frequência nos cinemas dos EUA. Williams imitou um caipira assistindo a "A Bela da Tarde", de Luis Buñuel, que deixou todo mundo na mesa chorando de rir. Nunca vou esquecer aquilo.

    A morte de Williams acontece pouco depois do suicídio de Fausto Fanti, de "Hermes e Renato", em outro exemplo de cômico talentoso batalhando com seus demônios.

    Williams passou os anos 70 e 80 entrando e saindo de detoxes mil e lutava havia anos contra a depressão. Mesmo quando falava de seus vícios, era genial: "Se você lembra dos anos 60, é porque não estava lá", disse certa vez.

    Sugiro ver trecho de um show demente de Williams em 1977. Um pequeno exemplo do talento absurdo do sujeito.

    ANDRÉ BARCINSKI é jornalista e diretor do programa "O Estranho Mundo de Zé do Caixão", no Canal Brasil

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