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    Crítica: Mostra destaca caráter dramático de trabalhos de Leonilson

    FABIO CYPRIANO
    CRÍTICO DA FOLHA

    17/08/2014 02h58

    "Ah, e você/Mr. One Night Stand at Toilets on airplanes", diz o texto bordado em tecido por Leonilson, referindo-se ao encontro sexual com um israelense numa viagem de avião.

    A obra, uma das 150 expostas na Pinacoteca, faz parte da seção "Os Diários", na qual o curador Adriano Pedrosa salienta o caráter biográfico da obra do artista.

    Poucos na história da arte brasileira expuseram-se de modo tão aberto, livre e poético como José Leonilson (1957-1993). Talvez aí esteja um dos elementos que mantenham a obra tão forte e atual.

    Tendo despontado num cenário que tinha a volta à pintura como questão central, Leonilson deslocou-se desse debate sem graça sobre suporte para criar uma obra vigorosa e ao mesmo tempo frágil -em papel, lona, feltro, voile ou no jornal. Ele encarnou em sua obra o drama da contaminação pela Aids.

    A curadoria de Pedrosa reforça o caráter multifacetado e dramático de Leonilson, exibindo as obras criadas em seus últimos anos, que ele considera o período "maduro", quando Leonilson já tinha consciência da doença.

    Um dos grandes méritos da mostra é expor essa obra contundente sem buscar competir com ela, como ocorreu com "Sob o Peso de Meus Amores", organizada no Itaú Cultural há três anos, que teve cenografia medonha e seleção bastante discutível, ao mesclar objetos pessoais, obras e descartes de obras.

    A mostra é limpa e deixa o trabalho de Leonilson falar por si mesmo. Uma das salas mais impressionantes é a dedicada aos brancos: influência, segundo Pedrosa, do norte-americano Robert Ryman.

    Ela ganha ares quase tão espiritualizados ou transcendentais como a última instalação de Leonilson, também na mostra, reencenação de um projeto para a Capela do Morumbi, em 1993, que ele não chegou a ver finalizada.

    A exposição reúne 94 das 102 ilustrações feitas por Leonilson para a coluna de Barbara Gancia na Folha, entre 1991 e 1993, que se revelou um ótimo diálogo. Para um artista que retirou da vida pessoal elementos essenciais em sua obra, a ilustração no jornal se transformou em poesia.

    LEONILSON: TRUTH, FICTION
    QUANDO de ter. a dom, das 10h às 18h; qui., das 10h às 22h; até 9/11
    ONDE Estação Pinacoteca, largo General Osório, 66, tel. (11) 3335-4990
    QUANTO R$ 6
    AVALIAÇÃO ótimo

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